Os jornais contabilizam onze assassinatos de sem terra em conflitos fundiários em vários estados do país no que vai de 2009. A sociedade nem se importou. Onze mortes e nem sequer um ato ecumênico foi realizado para marcar o episódio e estigmatizar uma vez mais o regime vigente.
Esse tipo de insensibilidade foi objeto da atenção de Hannah Arendt. Em um estudo que ela chamou de "banalização do mal".
De fato, a sociedade brasileira acostumou-se com as violências contra os sem terra e com a impunidade dos criminosos. Cinco mortos em um mês constituem apenas uma alteração de grau. Provavelmente resultado da mudança total de orientação do governo Lula em relação à reforma agrária.
Mas, na essência, o problema é o mesmo: o Estado brasileiro é contra a Reforma Agrária. Se para barrá-la for preciso aterrorizar os sem terra, isto será feito sem a menor dificuldade. Cientificamente.
Um velho e sofrido dirigente do MST definiu claramente essa situação. Ele disse mais ou menos o seguinte: "Nós nos habituamos a considerar o Estado brasileiro um aliado da reforma agrária. Estávamos enganados: esse Estado é contra a reforma agrária."
De fato, tivemos a tendência de valorizar exageradamente a influência da massa popular na constituição do Estado que temos hoje e que batizamos, nos anos oitenta, com o nome de "Aliança Democrática". Na verdade, a participação popular nos comícios das Diretas-Já foi importante, decisiva mesmo. Contudo, o povo não teve forças para levar o processo avante, até a institucionalização de uma verdadeira democracia, traído que foi pelas forças do centro político.
A conciliação "por cima" - centro, militares e direita - definiu o caráter do novo regime institucional: uma democracia restrita, legalmente apetrechada para impedir o crescimento do poder popular.
Entretanto isto não ficou claro para a esquerda, o que ajudou a criar na massa a idéia de que o Estado é aliado do povo. O fracasso da reforma agrária mostra agora o quanto essa idéia era equivocada.
A vivência do velho dirigente sem terra permitiu-lhe perceber essa dura realidade antes que os políticos da esquerda se dessem conta dela.
Onze mortes e nenhuma reação da opinião pública. Nem sequer um Ato Ecumênico. Essa é a dura realidade a desafiar todos nós nestes tempos de dubiedades e incertezas.
Fonte>>>(Este texto foi publicado em 29/7/2009 como editorial do Correio da Cidadania)
Esse tipo de insensibilidade foi objeto da atenção de Hannah Arendt. Em um estudo que ela chamou de "banalização do mal".
De fato, a sociedade brasileira acostumou-se com as violências contra os sem terra e com a impunidade dos criminosos. Cinco mortos em um mês constituem apenas uma alteração de grau. Provavelmente resultado da mudança total de orientação do governo Lula em relação à reforma agrária.
Mas, na essência, o problema é o mesmo: o Estado brasileiro é contra a Reforma Agrária. Se para barrá-la for preciso aterrorizar os sem terra, isto será feito sem a menor dificuldade. Cientificamente.
Um velho e sofrido dirigente do MST definiu claramente essa situação. Ele disse mais ou menos o seguinte: "Nós nos habituamos a considerar o Estado brasileiro um aliado da reforma agrária. Estávamos enganados: esse Estado é contra a reforma agrária."
De fato, tivemos a tendência de valorizar exageradamente a influência da massa popular na constituição do Estado que temos hoje e que batizamos, nos anos oitenta, com o nome de "Aliança Democrática". Na verdade, a participação popular nos comícios das Diretas-Já foi importante, decisiva mesmo. Contudo, o povo não teve forças para levar o processo avante, até a institucionalização de uma verdadeira democracia, traído que foi pelas forças do centro político.
A conciliação "por cima" - centro, militares e direita - definiu o caráter do novo regime institucional: uma democracia restrita, legalmente apetrechada para impedir o crescimento do poder popular.
Entretanto isto não ficou claro para a esquerda, o que ajudou a criar na massa a idéia de que o Estado é aliado do povo. O fracasso da reforma agrária mostra agora o quanto essa idéia era equivocada.
A vivência do velho dirigente sem terra permitiu-lhe perceber essa dura realidade antes que os políticos da esquerda se dessem conta dela.
Onze mortes e nenhuma reação da opinião pública. Nem sequer um Ato Ecumênico. Essa é a dura realidade a desafiar todos nós nestes tempos de dubiedades e incertezas.
Fonte>>>(Este texto foi publicado em 29/7/2009 como editorial do Correio da Cidadania)
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