quarta-feira, 1 de julho de 2009

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO SANTARENA E BELTERRENSE E ÀS AUTORIDADES CONTRA A TENTATIVA DE NEGAÇÃO DA NOSSA MEMÓRIA COLETIVA.

A história da Amazônia antes da chegada dos europeus, parece ignorada. O processo adaptativo e migratório das civilizações que habitaram essa parte do planeta e que através de seu modo de vida se relacionaram com o meio ambiente de uma forma totalmente diferente do jeito hegemônico atualmente, proporcionou a constituição do Bioma Amazônico. Uma das formas que a ciência tem para fazer a reconstituição desse modo de vida humano são as evidências materiais deixadas pelas diversas civilizações que aqui se estabeleceram.
Apesar de estar presente na memória e cultura do povo, e em evidências materiais no solo, na água, na fauna e na flora da região, esses fatos foram sendo destruídos pelos que ainda têm uma atitude colonizadora, visto que esse modo de vida não deveria ser propagado. Assim, além do total descaso com os sítios arqueológicos da cidade de Santarém, também através de um bombardeio ideológico forjou-se na (de)mentalidade universal o pensamento que em nome do progresso o passado deve ser esquecido.
Hoje outras idéias entram em cena com relação à necessidade de preservação do patrimônio cultural arqueológico dos Cacicados que aqui se evidenciam na Pré-História da Amazônia. A realidade arqueológica que se apresenta em Santarém é a fragilidade frente à expansão das cidades, mas o solo permanece como uma testemunha de nosso passado, em áreas de terra preta, que são um forte indício de ocupação antrópica.
Em Santarém há um Sítio Tapajó (denominação dada ao povo que à pelo menos sete mil anos atrás viveu nessas terras), localizado na parte urbana do município, e se estendendo pelo menos por quatro quilômetros quadrados da margem do rio Tapajós em direção ao centro da cidade. Com a urbanização, construção da Santarém Cuiabá (BR-163), do porto da Companhia Docas do Pará e instalação ilegal da empresa cargill, além de outras degradações, esse patrimônio corre o sério risco de destruição total.
Desde tempos longínquos é fato em Santarém a existência desse sítio arqueológico, no qual a população em geral costumava encontrar mesmo na superfície do solo artefatos pré-históricos. As praias do Rio Tapajós, Sudam e Vera Paz (outros patrimônios perdidos) assim como suas cercanias, são caracterizadas, na memória do povo, como locais onde habitavam nossos ancestrais, portanto já não restam dúvidas nem mesmo científicas sobre este fato.
Desde que a área próxima à CDP foi de maneira arbitrária arrendada à cargill, a FDA (Frente em Defesa da Amazônia), a FAMCOS (Federação das Associação de Moradores e Comunitários de Santarém), a AMDS (Associação das Mulheres Doméstica de Santarém), CPT (Comissão Pastoral da Terra), UES e Diretório Acadêmico da UFPA, dentre outras entidades e organizações vêm se manifestando contra a destruição desse sítio e da perda da Praia da Vera Paz. Antes da construção ilegal do porto da cargill outras parcelas da população também foram alertando para a importância do patrimônio arqueológico para a história da formação da identidade cultural de nossa região.
Atualmente a cargill além de incentivar a exploração predatória de nossos bens naturais e a expropriação dos territórios ocupados por direito pelas populações tradicionais de Santarém e Belterra, nega, ainda, veemente e vergonhosamente a história da nossa população, ao se colocar EM CIMA da prova material de nossa ancestralidade indígena e ACIMA da lei, do meio ambiente e da vontade da população, pretende assim, apagar nossa memória coletiva, contando uma história inventada a partir dela.
Assim sendo, diante da iniciativa da multinacional cargill de promover o Seminário “Arqueologia em Santarém”, e com ele a execução de seu projeto de resgate das peças arqueológicas para colocá-las em um museu, depois de ter construído toda sua estrutura portuária justamente sobre o sítio, nós, cidadãos santarenos e belterenses, nos colocamos contrários à presença desta empresa em nosso território, assim como negamos qualquer tipo de anuência aos seus planos de através de financiamento de entidades públicas, fazer de conta que se preocupa com a história de nosso povo, já que a verdadeira intenção deste enclave chamado cargill é justamente fazer a retirada das peças para que não haja empecilhos para sua ampliação naquela área.
Vale dizer ainda, que esta empresa, sequer teve seu EIA/RIMA aprovado pelas autoridades competentes, logo suas instalações sequer possuem permissão conclusiva para a fixação nesse lugar, portanto, tal projeto financiado pela cargill tem uma finalidade prática, qual seja: consolidar a empresa na área, mesmo passando por cima das leis ambientais. Deste modo, ainda estamos na espera que nossos órgãos públicos façam cumprir a legislação ambiental que trata das penalidades para a empresa e façam cumprir a legislação que protege o patrimônio cultural e com isso não permitam a realização de um projeto de recuperação do sítio arqueológico que vise somente possibilitar que uma empresa ilegal se fixe ainda mais numa área de tanto valor histórico para nosso povo.

Santarém, 11 de maio de 2009.
FRENTE EM DEFESA DA AMAZÔNIA

Um comentário:

Anônimo disse...

A inciativa da FDA desde antes da instalação, da bandida internacionalmente conhecida, Cargill, sempre foi uma voz no deserto das certezas absolutizadas pelo modelo predatório da natureza e da cultura do povo amazônida. Sabemos que a verdade é sempre escondida, mas um dia ela vem a tona.