quinta-feira, 22 de setembro de 2011

TRABALHADORES(AS) PARALISAM MINERADORAS NO SUL DO PARÁ: O motivo é "barulho e poeira"!!!


Hoje(22), a partir das cinco horas da manhã 100 trabalhadores(as) rurais, da Colônia Marajuara, no municipio de Rio Maria, sul do Pará, ocuparam uma estrada, vicinal Babaçu, por onde trafegam veículos que transportam funcionários e minérios de duas mineradoras que fazem a extração e exportação do minério de ferro e ouro, nos municípios de Floresta do Araguaia e Rio Maria.
Os (as) trabalhadores(as) reclamam que desde 2007 vem sendo atingidos pelo barulho e poeira causada pelo tráfego dos veículos, durante as 24 horas do dia, sem que as empresas ou órgãos públicos tomem providencias. Em 2009, foi enviado ao Ministério Público Estadual um abaixo assinado pedindo providencias mas que até o momento nada foi feito.
As empresas, Mineração Floresta do Araguaia e Reinarda Mineração Ltda., que fazem a extração dos minérios de ferro e ouro, respectivamente, também não se manifestam no sentido de resolver o problema, portanto a alternativa que foi encontrada pelos(as) atingidos(as) foi interromper o tráfego pela estrada, para que sejam tomadas as providências.
A estrada só será liberada a medida que as empresas se comprometerem e fecharem um acordo para as reivindicações das famílias:
. Asfaltamento imediato da vicinal Babaçu e Mamão, denominada “Estrada da Mineração” que liga o trajeto mineradoras à BR-155;
. construção de lombadas na vicinal ao longo das comunidades;
. implantação de sinalização em todo o trajeto das minas à rodovia BR-155;
. e, fiscalização e controle de velocidade dos caminhões bi-trens.
Rio Maria, 22 de setembro de 2011.
Comissão Pastoral da Terra – Xinguara/PA
Associação de Moradores Colônia Marajuara

Garimpo ameaça qualidade das águas e perspectivas para manejo de pirarucu em terras indígenas


Os invasores teriam negociado sua permanência com lideranças da aldeia Boca do Biá e, de acordo com os indígenas, eles estariam prospectando a região conhecida como Ressaca da Onça.

Plano BR-163 Sustentável: não parece sustentável!

Representantes de 54 entidades dos movimentos sociais da área de abrangência da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), reunidas desde ontem, aprovaram uma série de reivindicações contra a atual postura do Governo Federal em relação à implementação do Plano BR-163 Sustentável.

Ribeirinhos dizem "Cadê nossa indenização?" e a NESA "Cai fora! Perdeu maluco!"



A Norte Energia (Nesa), concessionária responsável pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, desapropriou, através de ordem judicial, mais uma propriedade na área de construção do canteiro de obras da barragem, às margens do Rio Xingu, destruindo a casa da família e depositando o valor da indenização em juízo no Banco da Amazônia.

NOTA PÚBLICA SOBRE PROJETOS DE EXTRATIVISMO MINERAL EM TERRAS INDÍGENAS DO AMAZONAS


COORDENAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INDIGENAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
UNIR PARA ORGANIZAR, FORTALECER PARA CONQUISTAR
NOTA PÚBLICA  SOBRE PROJETOS DE EXTRATIVISMO MINERAL EM TERRAS INDÍGENAS DO AMAZONAS
 
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), considerando o resurgimento e avanço de interesses diversos – de governos, empresas nacionais e internacionais e até de indígenas que agem a título pessoal – em torno da extração de recursos minerais que as terras indígenas abrigam na Amazônia, vem de público manifestar.
Primeiro – A COIAB declara-se indignada pela forma autoritária e truculenta como a questão é tratada e encaminhada, ignorando radicalmente os direitos fundamentais e coletivos dos povos indígenas, reconhecidos pela Constituição Federal e reafirmados por tratados internacionais, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho e a Declaração da ONU sobre esses direitos.
Segundo – A COIAB repudia nesse sentido o acordo assinado pela Secretaria Estadual dos Povos Indígenas (SEIND), do Estado do Amazonas, na segunda-feira 29 de agosto, com a empresa mineradora canadense Cosigo Resources Ltda, que tem o propósito de realizar um inventário das potencialidades de mineração de terras indígenas no Estado.
O “Projeto de Extrativismo Mineral no Estado do Amazonas”, intermediado pela Secretaria de Estado de Mineração, Geodiversidade e Recursos Hídricos (SEMGRH) pretende abranger as terras indígenas das regiões dos rios Içana e Tiquié, no Alto Rio Negro, e Apaporis, no rio Japurá.
Terceiro - O Acordo, ao contrário do declarado pela assessoria de imprensa da SEIND, para o Jornal A Crítica, não obedece à legislação brasileira,
convenções e tratados internacionais. O Ato ignorou totalmente o fato de a questão da mineração em terras indígenas ainda não ter sido regulamentada pelo Congresso Nacional, dependendo do cumprimento de acordo consensuado entre o Governo Federal e o Movimento Indígena brasileiro no âmbito da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), segundo o qual todos os aspectos que afetam a vida dos povos indígenas, incluindo o da mineração, deverão ser tratados no Novo Estatuto Povos Indígenas, a lei infra-constitucional que deve regulamentar o capítulo da Constituição Federal relacionada aos direitos indígenas.
Quarto – A mineração não é uma questão de consenso entre povos e comunidades indígenas, e por momentos aparece mais como uma questão de interesse pessoal de indivíduos residentes há algum tempo em cidades. É por tanto muito delicado e preocupante a decisão de órgãos de Governo, mesmo presididos por indígenas, de sair por ai negociando e falando em nome desses povos, muitos dos quais já vivenciaram ou sofrem até hoje as conseqüências desastrosas desta atividade, seja ela empresarial ou garimpeira.
Nesse sentido, a COIAB reafirma o seu apoio à carta de repúdio divulgada pela Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN) contra o acordo assinado pela SEIND. A FOIRN denuncia o fato de não ter havido diálogo com as lideranças locais e com a organização indígena, conforme é falsamente divulgado.
Quinto – O compromisso das partes em constituir, junto às comunidades indígenas, organizações e lideranças a “Anuência Prévia e Consentimento Esclarecido” implica na usurpação de uma competência da União, pois a questão indígena é de responsabilidade federal. Por outro lado, o Projeto de Lei relacionado aos assuntos de “interesse relevante da União” ainda não tramitou no Congresso Nacional e o direito dos povos indígenas à consulta livre, previa e informada, estabelecido pela Convenção 169 da OIT (Artigos 6 e 7), ainda não foi regulamentada pelo governo brasileiro.
Sexto – A afirmação do representante da empresa canadense, Andy Rendle, de que a atividade mineradora não causará impacto ao meio ambiente e de que os projetos irão beneficiar as comunidades é notadamente um discurso de persuasão, pois em lugar nenhum do mundo, grandes empreendimentos deixaram de provocar impactos sócio-ambientais irreversíveis. E quanto aos benefícios, sabe-se bem quais são os mais comuns: divisão nas comunidades, conflitos internos, problemas sociais (prostituição, alcoolismo, drogas etc), descaracterização cultural, entre outros. E quanto aos lucros, evidentemente milionários, nem precisa falar, sobram para os donos do capital envolvidos e outros beneficiários que não as comunidades indígenas.
Sétimo – Sem ir muito longe, considerando o exemplo da Hidrelétrica de Belo Monte, a promessa de projetos de apoio, inclusive antecedendo o início dos empreendimentos, visa certamente cooptar e dividir lideranças e comunidades, e condicionar a dita “Anuência Prévia e Consentimento Esclarecido”, isto é, para que as comunidades aprovem depois sem muita resistência à implantação da pesquisa e a exploração mineral nas suas terras, incorporando-se inclusive ao batalhão de mão de obra, explorada, requerida pelas empresas.
Diante de todos esses fatos, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB se manifesta SOLIDÁRIA com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro - FOIRN e aos povos indígenas afetados, para que iniciativas como estas não voltem a se repetir, em respeito à autonomia, os direitos constitucionais e originários dos nossos povos.

Manaus, 15 de setembro de 2011.
 
 
 
 
MARCOS APURINà                             SÔNIA GUAJAJARA
Coordenador Geral da COIAB             Vice Coordenadora da COIAB

Audiência PCH Itapacura: só para acertar os pontos!

Para quem esperava uma audiência em o público presente pudesse participar, não viu nada igual na terça-feira(13/09). "Uns papos pra li, outros pra acolá" e só! Tudo pronto para começar a construção de uma tal "pequena" usina hidrelétrica! 

Para quem esperava desenvolvimento em Altamira, está cada vez mais evoluindo a criminalidade, a violência...


O aumento da violência em função do início das obras de Belo Monte já vem se configurando como um problema em Altamira (PA), principal cidade da região afetada pela construção da Usina. Somente neste último final de semana, um menor de idade foi morto, um homem teve o rosto desfigurado, uma delegacia foi invadida por quarenta trabalhadores – onze deles foram detidos -, um resgate foi feito na prisão e “justiça” foi feita com as próprias mãos.

Para os movimentos sociais, o fato apenas confirma a previsão feita nos últimos anos. Mais grave, como também já apontado, é que Belo Monte vem desacompanhada de políticas públicas e instaura um clima de grande insegurança e um futuro incerto para as populações locais – em especial, a juventude.

A avaliação é corroborada pelas autoridades policiais. Segundo o superintendente regional da Policia Civil, o delegado Cristiano Nascimento, não há efetivo suficiente para atender às novas necessidades, que tem crescido com o início da construção dos alojamentos do canteiro de obras da hidrelétrica. “Somente em Altamira, a criminalidade aumentou 28%, do ano passado para cá. Neste período, não foram trazidos novos policiais para a delegacia”, explica.

Nascimento lembra que a regional é responsável por atender nove municípios da região, e não apenas Altamira.  “Neste momento, precisaríamos de 50% a mais do que contamos hoje”, acrescenta. Segundo ele, este número dobraria, caso Belo Monte siga seu ritmo de construção.

“As conseqüências de uma obra como esta, ainda em fase embrionária, são muito mais nefastas e complexas do que os discursos públicos do Ibama e do governo deixam transparecer”, comenta a coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Antonia Melo. “A criminalidade cresce e, claro, também cresce entre as camadas mais jovens e empobrecidas da população. O que vai acontecer com toda essa juventude? O que vai ser da vida aqui?”, questiona. Para ela, Belo Monte é um caos e o governo sequer consegue colocar panos quentes em questões simples, como o aumento do reforço da polícia civil na região. “Nem isso eles fazem, o que dirá uma política pública séria que realmente trate de todas as consequências desse monstro… A cidade está completamente fora de controle. O governo e a Norte Energia simplesmente estão ignorando a vida de quem mora no entorno deste monstro que eles querem construir”, lamenta.

Condicionantes


Sobre as condicionantes, o delegado é bastante explícito. “Sabe-se que há um planejamento para atender a região e que a Norte Energia assinou convênio com o estado de R$ 174 milhões para a segurança, mas entre o planejamento e a execução, tem um pulo muito grande”. Para que haja contratações, é necessário haver concurso público; e, segundo Nascimento, não há ainda nem o edital do concurso lançado. “Ou seja, até que seja feito o concurso, e chamados e treinados os novos policiais, estes só poderão chegar em, no mínimo, um ano”.

Para o representante do Instituto Socioambiental, Marcelo Salazar, as obras de Belo Monte deveriam ter começado apenas depois que a região estivesse preparada para suportar as consequências que uma obra deste porte carrega consigo. “É um crime o IBAMA ter liberado essa licença. Quem será responsabilizado pelo caos que estamos assistindo? O taxista assaltado que não achou amparo na justiça e buscou soluções fora dela? O delegado que não tem condições de realizar seu trabalho? A falta de planejamento da prefeitura e do estado por não aparelhar a segurança da cidade?”, pergunta.

Marcelo também credita a responsabilidade pela violência e desamparo à Norte Energia e ao governo federal. “Eles conseguem planejar e executar as obras, mas não consegue cumprir as condições prévias de preparação socioambiental que uma obra dessa envergadura exige – e ainda afirmam que tudo está sub controle, escondendo a sujeira, o descaso, os próprios crimes”.

Criminalidade


Um assalto violento a um taxista, ocorrido no sábado, 10, acabou levando à morte de um menor por ineficiência da justiça. Após ser roubado e espancado, o motorista chegou a delegacia apenas em roupas de baixo e registrou ocorrência. A morosidade da polícia fez com que ele e outros taxistas saíssem em busca dos culpados, houve um confronto e um rapaz de 15 anos, parente de um dos ladrões, acabou morto. Um taxista também saiu ferido, tendo sido esfaqueado no rosto.

No domingo (11), a delegacia regional da Polícia Civil de Altamira foi invadida por 40 taxistas. Eles renderam o delegado, um escrivão e um agente, entortaram com as mãos as grades apodrecidas do presídio e resgataram o colega acusado da morte do menor. Outros 11 taxistas acabaram presos.

Neste mesmo final de semana, uma mulher foi assassinada. O culpado não foi encontrado. Na sexta-feira que antecedeu o feriado de 7 de setembro, três jovens foram esfaqueados e mortos na porta de uma discoteca na principal avenida da região central da cidade.


Fonte: Xingu Vivo Para Sempre

Frankenstein na Amazônia - Por Lúcio Flávio Pinto

Para que Belo Monte gerasse mais energia era preciso que a barragem fosse mais alta, para aumentar a queda de água na direção das máquinas e, ao mesmo tempo, estocar mais água no seu reservatório para o período de estiagem. Nessa época, a vazão do rio é mínima, insuficiente para acionar uma só das 20 enormes máquinas da usina, cada uma delas necessitada de 700 mil metros cúbicos por segundo. O lago de Belo Monte, que era originalmente de 1.600 quilômetros quadrados, foi reduzido a 510 km2, seis vezes menos do que o reservatório de Tucuruí, o segundo maior lago artificial do Brasil. 



A construção de uma obra só é decidida quando sua viabilidade econômica é comprovada. A única alternativa para essa regra de ouro do capitalismo é o subsídio, exceção que lhe nega as melhores virtudes. É quando, mesmo sem poder se pagar, a obra é executada porque alguém assumirá o seu custo, sem se preocupar com o retorno do investimento realizado. Em geral, a exceção só ocorre quando o governo é quem paga a conta. Como governo não produz, a conta é repassada ao contribuinte, aquele que paga impostos.

O que define a rentabilidade de uma hidrelétrica é o seu “fator de carga”. Ou seja: a energia que ela poderá oferecer o ano inteiro. A média é tirada entre o pico da geração, quando há água para acionar todas as turbinas instaladas na casa de força (e ainda sobra para ser vertida de um lado para outro da barragem, sem passar pelas máquinas), e o mínimo do verão. Para que uma hidrelétrica amortize o que nela foi gasto, é preciso que essa energia firme varie em torno de 55% da capacidade nominal de geração.

O fator de carga” da usina de Itaipu, no rio Paraná, a maior do mundo, é de 61%. A de Tucuruí, a quarta maior, ficou em 49%; por isso a usina do rio Tocantins, no Pará, teve que ser subsidiada. Já a energia firme de Belo Monte, no Xingu, ainda em território paraense, será de 40%.

À margem do grosso tiroteio que o projeto tem provocado, duas perguntas elementares precisam ser respondidas: por que a energia média ficou tão baixa? E por que, mesmo assim, o governo decidiu levar avante o projeto? Para que Belo Monte gerasse mais energia era preciso que a barragem fosse mais alta, para aumentar a queda de água na direção das máquinas e, ao mesmo tempo, estocar mais água no seu reservatório para o período de estiagem. Nessa época, a vazão do rio é mínima, insuficiente para acionar uma só das 20 enormes máquinas da usina, cada uma delas necessitada de 700 mil metros cúbicos por segundo.

Com isso, porém, a área de inundação de Belo Monte seria enorme. Alagar tanta terra sempre foi o calcanhar de Aquiles do projeto. Foi o que o manteve congelado durante mais de um terço da sua história, desde que o rio começou a ser inventariado (na segunda metade dos anos 1970, em pleno regime militar), por causa da reação da opinião pública a esse desastre ecológico.

A segunda barragem, de Babaquara, rio acima, concebida para regularizar o Xingu naquele trecho, foi cancelada. O lago de Belo Monte, que era originalmente de 1.600 quilômetros quadrados, foi reduzido a 510 km2, seis vezes menos do que o reservatório de Tucuruí, o segundo maior lago artificial do Brasil. E a potência instalada de Belo Monte será de 11 mil megawatts contra pouco mais de 8 mil MW de Tucuruí. Uma relação energia/área inundada muito mais saudável, portanto.

Ao puxar o lençol do reservatório para cobrir a chaga ecológica do alagamento de terra os técnicos criaram o projeto da maior hidrelétrica a fio d’água do mundo. Essas usinas são de pequeno ou médio porte justamente porque, sem reservar água para o verão, funcionam apenas com o que flui naturalmente pela bacia de drenagem. Param no verão.

Para quê construir uma enorme estrutura se no verão o vertimento natural será insignificante? É o que explica as duas primeiras hidrelétricas da Amazônia, construídas antes da era das gigantescas usinas, como Tucuruí, terem entre 30 e 40 MW, no Pará e no Amapá. Uma única turbina de Belo Monte terá 20 vezes mais potência do que as hidrelétricas de Curuá-Una e Coaracy Nunes.

Engenhosos, os engenheiros buscaram uma alternativa. Já que não iam estocar energia para o verão, sugeriram que fosse aproveitado o desnível de 90 metros que há entre o ponto a montante do rio, onde ficará a barragem secundária (no sítio Pimental), de baixa queda, e a casa de força, a jusante, numa distância de 50 quilômetros. É aí que se localiza a Grande Volta do Xingu, um paraíso natural que os críticos de Belo Monte garantem que a usina destruirá.

Para a água descer com fluência, o projeto prevê a construção de canais de concreto na direção da casa de máquinas, aproveitando a drenagem natural. Este é o elemento mais polêmico da engenharia em si: esses canais funcionarão a contento? São seguros contra grandes impactos ambientais? Tratando-se de uma estrutura que utilizará mais concreto do que o aplicado no canal do Panamá, não são questões irrelevantes.

Os desafios à engenharia, pelo contrário, são imensos. Tão grandes que o orçamento oficial de Belo Monte subiu de 19 bilhões de reais para bem próximo de R$ 30 bilhões, sem incluir mais uns dois terços de investimento na extensa linha de transmissão de energia. Tão incertos que todas as empreiteiras de tradição no setor pularam o balcão: deixaram de ser sócias no projeto de energia para se tornarem suas construtoras. Ao invés de investir, vão faturar com aquilo que mais sabem fazer: realizar a obra em si e, graças ao seu gigantismo, manter seu poder político.

Quem investirá? As estatais, é claro, e seus fundos, mas principalmente com o dinheiro do BNDES, que, não tendo tanto (prometeu entrar com 80% do valor necessário), teve que recorrer ao tesouro nacional; que, por sua vez, se desvia de suas funções mais nobres para garantir a sangria do erário.

De tanto mexer no projeto original de Belo Monte, que era inaceitável (só um regime de força podia impô-lo goela abaixo da nação, como aconteceu com Tucuruí e Itaipu), os engenheiros criaram um monstro, um Frankenstein energético. Para que ele funcione, o governo (e, no fim da fila, o contribuinte) terá que pagar a fatura. Para que, ao menos no inverno, a maior hidrelétrica do país mande energia na direção sul. Apenas 3% ficarão na própria Amazônia.

Ao invés de fixar a riqueza da região, Belo Monte a sugará. Um modelo colonial com a marca do PT de Lula, de Dilma e de quem mais aparecer.



No curso das usinas, os desvios dos homens

A abordagem se dá na porta dos colégios ou nas imediações.  Meninas de uniforme escolar comprando roupas e calçados, acompanhadas de homens mais velhos, são vistas por comerciantes locais com frequência.  Agentes de saúde relatam a ocorrência cada vez maior de gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis entre adolescentes.  Cresce também o número de bares que funcionam como prostíbulos.


A abordagem se dá na porta dos colégios ou nas imediações.  Meninas de uniforme escolar comprando roupas e calçados, acompanhadas de homens mais velhos, são vistas por comerciantes locais com frequência.  Agentes de saúde relatam a ocorrência cada vez maior de gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis entre adolescentes.  Cresce também o número de bares que funcionam como prostíbulos.  Cada um, à sua maneira, em Porto Velho, percebe as transformações em curso na cidade desde que duas usinas hidrelétricas começaram a ser construídas, há cerca de quatro anos.  Além de progresso econômico, Jirau e Santo Antonio levaram para a capital de Rondônia a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes.  O número de casos mais que dobrou entre 2009 e 2010 — passando de 306 para 636, respectivamente.
De tão graves, os dados que comprovam com rigor estatístico aquilo que os moradores da região já sabem levaram Maria do Rosário, chefe da Secretaria de Direitos Humanos, a Porto Velho nesta semana.  Ela saiu do encontro na cidade disposta a intensificar o combate às violações ocorridas em canteiros de grandes obras espalhadas pelo país, sobretudo com a perspectiva de mais construções para a Copa de 2014.  Dos 942 casos apresentados à ministra, 41% se referem à violência sexual extrafamiliar, ou seja, fora do círculo familiar, e 13,9% correspondem à exploração sexual.  As informações são do Projeto Girassol, que atua no combate ao problema.  Quase 70% dos registros foram colhidos pelos pesquisadores em boletins de ocorrência.  Fichas de atendimento da área social e da saúde também contribuíram para dimensionar a situação.
Professora da Universidade Federal de Rondônia que participa do Projeto Girassol, Maria Berenice Tourinho descreve a realidade vivida atualmente como um misto de questões — o patriarcalismo como cultura, a ausência de poder público e a necessidade financeira de famílias que antes viviam do extrativismo.  "Além disso, inclua trabalhadores que não vieram com suas famílias para os canteiros de obra, sem nenhuma opção de lazer qualificado, que não suportam a mesmice das horas livres no canteiro de obras e são levados para os distritos como forma de aliviar as tensões do dia de trabalho", destaca Maria Berenice.  Para a promotora da Infância e Juventude Tânia Garcia, é preciso fortalecer a rede de atendimento para acolher as vítimas, mas também prevenir a ocorrência da exploração sexual.
As violações sexuais são apenas um dos problemas sociais vivenciados por essa população.  Eles também padecem sem escolas, segundo relatório recente da Plataforma Dhesca, uma rede de aproximadamente 30 organizações ligadas aos direitos humanos no país.  Em abril, o relator da entidade que redigiu o documento, José Guilherme Zagallo, constatou 195 alunos sem estudar por falta de vagas.  "As informações que recebemos das autoridades locais é de que os consórcios de Jirau e de Santo Antonio tinham se comprometido a fazer duas escolas.  Mas só uma delas, a Nossa Senhora de Nazaré, no povoado de Z, estava funcionando", diz Zagallo.
Força-tarefa
Com o objetivo de prevenir e enfrentar a exploração sexual de crianças e adolescentes na região de influência da obra das usinas hidrelétricas Jirau e Santo Antonio, em Porto Velho, o Projeto Girassol conta com a participação de vários atores.  São eles: o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, a Universidade Federal de Rondônia, a Petrobras e a organização Childhood.  Entre as tarefas, estão a capacitação de professores no tema e o encaminhamento de vítimas para atendimento.
Missão emergencial
O documento é resultado da missão emergencial de monitoramento realizada em 31 de março e 1º de abril de 2011 pela Relatoria Nacional do Direito Humano ao Meio Ambiente visando investigar as denúncias de violações de direitos humanos relacionadas às obras das usinas hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, situadas em Porto Velho.  Em abril de 2008, a situação na localidade já tinha sido alvo de outra inspeção da Plataforma Dhesca.




Fonte: correioweb.com.br


Belo Monte: as conquistas serão fruto da organização e da luta

Com o acampamento realizado pelos atingidos por Belo Monte durante esta semana em Altamira (PA), os atingidos conseguiram uma audiência com a Secretaria Geral da Presidência e com representantes do Ministério das Cidades. Como encaminhamento definiu-se que a Secretaria Geral vai agendar reuniões com o Incra em Brasília, para que o Instituto faça as vistorias das terras para reassentamento de 190 famílias que ocuparam três fazendas, no município de Uruará.



Com o acampamento realizado pelos atingidos por Belo Monte durante esta semana em Altamira (PA), os atingidos conseguiram uma audiência com a Secretaria Geral da Presidência e com representantes do Ministério das Cidades.
A audiência ocorreu na tarde de ontem (25) e os atingidos colocaram na mesa as principais preocupações, entre elas a falta de informações sobre o futuro das famílias, e as principais reivindicações, tais como reassentamento para as ocupações rurais do município de Uruará e moradias e infra estrutura para as ocupações urbanas de Altamira.
Tanto a Secretaria Geral como o Ministério das Cidades se comprometeram em analisar as reivindicações. Como encaminhamento definiu-se que a Secretaria Geral vai agendar reuniões com o Incra em Brasília, para que o Instituto faça as vistorias das terras para reassentamento de 190 famílias que ocuparam três fazendas, no município de Uruará.
Quanto às ocupações urbanas, definiu-se que a Secretaria Geral agendará reuniões com o Comitê Gesto de Belo Monte para apresentar a reivindicação de 1080 casas para as famílias dos bairros que serão inundados, além de infra-estrutura de escola, saneamento básico, postos de saúde, entre outros.
Além disso, será marcada uma reunião com o Ministério da Justiça, através da Secretaria de Direitos Humanos, para que os advogados da Defensoria Pública da União defendam os direitos das famílias que estão sofrendo despejo ilegal, ameaças de morte e criminalização de lideranças.
Os coordenadores do MAB disseram que estarão atentos para os encaminhamentos prometidos pela Secretaria Geral da Presidência e Ministério das Cidades.
“Faremos mais mobilizações para cobrar nossos direitos. O Estado e as empresas construtoras tem a obrigação de informar e atender as famílias atingidas. Neste acampamento pudemos questionar Belo Monte para quê e para quem?, assim demos nosso recado que não estaremos de braços cruzados vendo essa obra ser erguida”, disse Rogério Hohn, do MAB


Fonte: MAB

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Washington Novaes: Biodiversidade, água, energia. Quando cuidaremos das nossas torres?

Na manhã de 11 de setembro de 2001 o autor destas linhas estava em Tefé, no Amazonas, preparando-se para embarcar no porto rumo à Reserva de Mamirauá, lá pelas bandas dos Rios Japurá e Solimões, onde seriam gravadas cenas para um documentário da TV Cultura de São Paulo chamado Biodiversidade: Primeiro Mundo é Aqui (Estado de São Paulo, 12.09.2011) .

 
Sentado na calçada em frente a um hotel, olhava enquanto a equipe carregava numa van os equipamentos de gravação. Até que o porteiro do hotel, correndo e batendo uma mão na outra, veio dizer, esbaforido: “Um avião derrubou o maior prédio de Nova York. Está lá, na televisão”. De fato, estava, deixando-nos todos perplexos. Mas era preciso partir. As “voadeiras” que nos levariam pararam, entretanto, num posto flutuante de combustíveis e lá havia uma televisão que mostrava um segundo avião derrubando uma segunda torre. Porém não tínhamos como esperar uma explicação, seguimos adiante. Nos cinco dias seguintes, como em Mamirauá não havia televisão nem telefone, ficamos, todos a circundar a reserva, a ver só água e florestas, sem nenhuma notícia, imaginando: será a terceira guerra mundial? Só no fim do quinto dia, num posto flutuante do Ibama, pudemos ver um noticiário de TV e entender o que acontecera.

 
Já se sabia, nesse 2011, que o Brasil detinha entre 15% e 20% da biodiversidade mundial e que essa é a maior riqueza real, concreta, do planeta (medicamentos, alimentos, materiais). Já se lutava, em várias frentes, por uma política de conservação efetiva para o bioma. Passados dez anos, o cálculo que se faz é de que 18% da floresta já tenha desaparecido e que se chegar a 20% pode haver “uma inflexão”, como tem advertido o conceituado biólogo Thomas Lovejoy (Folha de S.Paulo, 14/8): poderá haver mudanças fortes no regime de chuvas, afetando também Mato Grosso, o sul do País, até a Argentina. Experiente, Lovejoy diz que não nos devemos preocupar com ameaças do exterior, porque o mais grave já está aqui: “A pior forma de biopirataria é a destruição da floresta”.

Muitas vozes se somam à dele. O professor Paulo Moutinho, da Universidade Federal do Pará, lembra que “as florestas tropicais são o ar-condicionado do planeta” (Eco 21, julho 2011). O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos alerta que “a miséria está transformando a Amazônia numa das principais rotas do tráfico internacional de armas e drogas” (Estado, 1.º/9). O próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se diz “muito preocupado” com o desmatamento, que “diz respeito a todos os países, é uma questão global”, até porque responde por 20% das emissões de gases que intensificam mudanças climáticas. E espera que esse seja um dos temas centrais da Rio+20 (Estado, 18/6). Só que o desmatamento voltou a crescer: 1.435 quilômetros quadrados de agosto de 2010 a maio de 2011 (mais 24%) e 6.081 km2 de florestas degradadas no mesmo período (mais 363%) – principalmente ao longo das principais rodovias, 65% em áreas privadas, 24% em assentamentos. Uma progressão que leva o prudente Financial Times (31/8) a dizer que “a Amazônia é um teste político para a presidente Dilma”.

 
Resta saber em que termos. A própria presidente autorizou a redução da área de parques e reservas para permitir discutíveis obras de hidrelétricas na região – que nem sequer terão como principal mercado os Estados do bioma: só 3,2% da energia de Belo Monte será consumida pelos paraenses e 4,1% pela Amazônia; 70% ficará para concessionárias de São Paulo e Minas, 14% para a Bahia (Diário do Pará, 31/8). Isto é, irá para linhões de transmissão, uma rede que já perde 17% e, segundo o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, precisaria ser praticamente toda trocada; foi implantada para resistir a ventos de até 80 quilômetros por hora e hoje enfrenta o dobro (Geodireito, 2/9).

 
E não é só. As pastagens respondem pela ocupação de 62% das áreas de desmatamento medidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Estado, 3/9). Mas o novo relatório sobre o Código Florestal, em discussão no Congresso Nacional, continua a abrir o facilitário para desmatadores, inclusive de reservas legais obrigatórias e áreas de proteção permanente – além de transferir para governos estaduais poder para legislar na área, facilitando as pressões locais de agropecuaristas e políticos.

E tudo isso vai agravar a situação da Amazônia. Exatamente na hora em que novo estudo sobre a biodiversidade mundial aponta que ela tem mais que o dobro das espécies até agora apontadas (8,7 milhões, pelo menos, quando se contabilizavam 3,1 milhões). Se a Amazônia tem um terço da biodiversidade brasileira e esta corresponde a pelo menos 15% da biodiversidade planetária, a Amazônia terá quase 500 mil espécies. Quanto vale isso, lembrando, segundo Lovejoy, que só o comércio mundial de medicamentos derivados de plantas movimenta pelo menos US$ 250 bilhões anuais – e o Brasil nem sequer participa dele, porque não destina verbas suficientes para pesquisas, como recomenda a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência?

 
Não bastasse, num momento em que o mundo agoniza com a chamada crise da água, cientistas descobrem a quatro quilômetros de profundidade, sob o Rio Amazonas, outro rio, que corre de oeste para leste em 6 mil quilômetros e desemboca perto da foz do grande rio (Estado, 25/8). Seu fluxo, de 3 mil metros cúbicos por segundo, é maior que o do Rio São Francisco. Em pouco mais de 20 minutos poderia abastecer com 350 litros (consumo diário) cada um dos 11,4 milhões de paulistanos. E isso num país que já tem quase 13% de toda a água superficial do planeta, fora a dos aquíferos subterrâneos.

 
Biodiversidade, água, energia. Quando passaremos a dar prioridade em nosso pensamento político e na estratégia a fatores como esses, principalmente quando as sucessivas crises financeiras mundiais indicam que o mundo terá de valorizar recursos concretos, em lugar de papéis?
 

Criminalidade e violência em Altamira aumentam 28% com Belo Monte

O aumento da violência em função do início das obras de Belo Monte já vem se configurando como um problema em Altamira (PA), principal cidade da região afetada pela construção da Usina. Somente neste último final de semana, um menor de idade foi morto, um homem teve o rosto desfigurado, uma delegacia foi invadida por quarenta trabalhadores – onze deles foram detidos -, um resgate foi feito na prisão e “justiça” foi feita com as próprias mãos.

Para os movimentos sociais, o fato apenas confirma a previsão feita nos últimos anos. Mais grave, como também já apontado, é que Belo Monte vem desacompanhada de políticas públicas e instaura um clima de grande insegurança e um futuro incerto para as populações locais – em especial, a juventude.

A avaliação é corroborada pelas autoridades policiais. Segundo o superintendente regional da Policia Civil, o delegado Cristiano Nascimento, não há efetivo suficiente para atender às novas necessidades, que tem crescido com o início da construção dos alojamentos do canteiro de obras da hidrelétrica. “Somente em Altamira, a criminalidade aumentou 28%, do ano passado para cá. Neste período, não foram trazidos novos policiais para a delegacia”, explica.
Nascimento lembra que a regional é responsável por atender nove municípios da região, e não apenas Altamira. “Neste momento, precisaríamos de 50% a mais do que contamos hoje”, acrescenta. Segundo ele, este número dobraria, caso Belo Monte siga seu ritmo de construção.
“As conseqüências de uma obra como esta, ainda em fase embrionária, são muito mais nefastas e complexas do que os discursos públicos do Ibama e do governo deixam transparecer”, comenta a coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Antonia Melo. “A criminalidade cresce e, claro, também cresce entre as camadas mais jovens e empobrecidas da população. O que vai acontecer com toda essa juventude? O que vai ser da vida aqui?”, questiona. Para ela, Belo Monte é um caos e o governo sequer consegue colocar panos quentes em questões simples, como o aumento do reforço da polícia civil na região. “Nem isso eles fazem, o que dirá uma política pública séria que realmente trate de todas as consequências desse monstro… A cidade está completamente fora de controle. O governo e a Norte Energia simplesmente estão ignorando a vida de quem mora no entorno deste monstro que eles querem construir”, lamenta.

Condicionantes

Sobre as condicionantes, o delegado é bastante explícito. “Sabe-se que há um planejamento para atender a região e que a Norte Energia assinou convênio com o estado de R$ 174 milhões para a segurança, mas entre o planejamento e a execução, tem um pulo muito grande”. Para que haja contratações, é necessário haver concurso público; e, segundo Nascimento, não há ainda nem o edital do concurso lançado. “Ou seja, até que seja feito o concurso, e chamados e treinados os novos policiais, estes só poderão chegar em, no mínimo, um ano”.

Para o representante do Instituto Socioambiental, Marcelo Salazar, as obras de Belo Monte deveriam ter começado apenas depois que a região estivesse preparada para suportar as consequências que uma obra deste porte carrega consigo. “É um crime o IBAMA ter liberado essa licença. Quem será responsabilizado pelo caos que estamos assistindo? O taxista assaltado que não achou amparo na justiça e buscou soluções fora dela? O delegado que não tem condições de realizar seu trabalho? A falta de planejamento da prefeitura e do estado por não aparelhar a segurança da cidade?”, pergunta.
Marcelo também credita a responsabilidade pela violência e desamparo à Norte Energia e ao governo federal. “Eles conseguem planejar e executar as obras, mas não consegue cumprir as condições prévias de preparação socioambiental que uma obra dessa envergadura exige – e ainda afirmam que tudo está sub controle, escondendo a sujeira, o descaso, os próprios crimes”.

Criminalidade

Um assalto violento a um taxista, ocorrido no sábado, 10, acabou levando à morte de um menor por ineficiência da justiça. Após ser roubado e espancado, o motorista chegou a delegacia apenas em roupas de baixo e registrou ocorrência. A morosidade da polícia fez com que ele e outros taxistas saíssem em busca dos culpados, houve um confronto e um rapaz de 15 anos, parente de um dos ladrões, acabou morto. Um taxista também saiu ferido, tendo sido esfaqueado no rosto.
No domingo (11), a delegacia regional da Polícia Civil de Altamira foi invadida por 40 taxistas. Eles renderam o delegado, um escrivão e um agente, entortaram com as mãos as grades apodrecidas do presídio e resgataram o colega acusado da morte do menor. Outros 11 taxistas acabaram presos

Neste mesmo final de semana, uma mulher foi assassinada. O culpado não foi encontrado. Na sexta-feira que antecedeu o feriado de 7 de setembro, três jovens foram esfaqueados e mortos na porta de uma discoteca na principal avenida da região central da cidade.

Por Xingu Vivo

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

CURUPIRA NÃO MARCHA, NEM DESFILA!

CARTA ABERTA À COMUNIDADE ESCOLAR

"A educação que, para ser verdadeiramente humanista, tem que ser libertadora." (Paulo Freire)
Diante da realidade da nossa educação queremos dialogar com a comunidade escolar (profissionais, pais e estudantes) que, tem sua parcela de contribuição de moldar a sociedade com valores inegavelmente positivos, mas também com atitudes negativas e contraditórias.


Destacamos dois fatos espantosos: o primeiro é o método da “distribuição” de conceito pela participação de estudantes em atividades mecânicas como dançar em quermesse, limpar escola, capinar, pintar, etc.; o segundo é a insistência em participar do chamado “desfile do 7 de setembro”.


Não aprendeu nada, mas ganha 30 pontos!


Quanto à “distribuição” de pontos entendemos que essa atitude é uma forma de alienar intelectualmente os estudantes, visto que os estudantes devem, sobretudo, serem avaliados quanto a sua capacidade intelectual, não a de memorização, mas a de compreensão. É contraditório o professor reclamar do estudante por vários motivos, mas enganá-lo com pontos extras. Assim, o estudante, que assume a culpa por aceitar, já notou que pode compensar notas baixas com qualquer atividade braçal, pois o mesmo receberá 10, 20, 30 ou mais pontos.


Acreditamos que trabalhar pela valorização da escola, enquanto patrimônio público, enquanto espaço social proporciona ao estudante e ao professor identificarem-se com a instituição, levando a uma participação na vida escolar voluntária e conscientemente, sem esperar troca de favores, nem compra de aprovação no pacto da mediocridade do “eu finjo que te ensino” e “tu finges que aprende”.


Marcha soldado, cabeça de papel”!


Quanto ao “desfile do 7 de setembro” temos a compreensão de que o desfile em si é um processo alienador, porque não proporciona a formação do intelecto; é uma atividade imposta, pois tanto o professor quanto o estudante têm o direito de não participar invocando o direito de convicção filosófica ou política, bem como por somente ser obrigado de fazer algo em virtude de lei; é mentiroso, porque tratam como ato de cidadania, cívico e patriótico que são termos totalmente distante do seu real sentido aplicado ao caso; é militarizado, quando percebemos estudantes marchando como militares, influenciando-os a ser um deles; é subserviente, visto que a comunidade escolar que reclama da péssima realidade educacional, são os mesmos que desfilam para os seus algozes (prefeitos, governadores, presidente e demais políticos responsáveis pela situação caótica da educação); pois desfilar conota de que está tudo bem, pois as escolas foram fazer o que eles queriam: marchar como soldados “cabeça de papel”.


Posto isto, concluímos que se formou um ciclo vicioso, o ciclo da não-educação. É o estudante sendo educado a ser um indivíduo aquém do esperado ou um desses políticos que perpetuarão a crise educacional. Ou seja, criam seus próprios inimigos e suas próprias dores.


Portanto, funcionários, pais, estudantes e moradores, almejamos que a educação não seja um processo alienador, obrigatório e antidemocrático, mas um ato libertário, politizador e essencialmente educacional.
Santarém – PA (Amazônia), 30 de agosto de 2011.



FRENTE EM DEFESA DA AMAZÔNIA

Plenária da UES: Estado do Tapajós em debate


Ocorrerá no dia 10 de setembro de 2011 (Sábado) a Plenária Municipal da UES que decidirá a posição da entidade sobre a criação do estado do Tapajós. O evento terá início às 14 horas e será realizado no Auditório da Casa de Cultura de Santarém.

O objetivo da Plenária é debater os fatores sociais, políticos, econômicos e culturais que estão envolvidos na proposta de redivisão territorial do estado do Pará, que será apreciada em plebiscito pelo povo paraense no dia 11 de dezembro deste ano.

Para tanto, o evento iniciará com a mesa redonda Estado do Tapajós em debate, que terá como debatedores o professor Manuel Dutra (doutor em comunicação social, UFPA), Aluízio Leal (doutor em economia) e Padre Edilberto Sena, ativista social e ambientalista, diretor da Rádio Rural de Santarém.

Após a mesa redonda, os estudantes presentes na Plenária terão oportunidade de debater entre si sobre a criação dos novos estados, sendo que, ao final, será realizada votação que decidirá qual o posicionamento que a UES adotará acerca do tema. Terão direito a voto todos os estudantes matriculados em instituições de ensino superior de Santarém no 2º semestre de 2011. As inscrições (gratuitas) já estão sendo feitas na sede da entidade.

A realização da Plenária Municipal da UES reforça a tradição democrática da entidade, cujas principais deliberações são tomadas diretamente pela base estudantil, formada por mais de dez mil universitários. Ademais, o evento é um chamado aos estudantes de Santarém para que sejam parte ativa das discussões sobre a redivisão territorial do Pará, tema que estará no centro da pauta política do estado durante todo o segundo semestre de 2011.

Confira abaixo o Edital de Convocação da Plenária Municipal da UES, que contém as regras básicas do evento.

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EDITAL DE CONVOCAÇÃO Nº 01/2011

A diretoria da União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém – Gestão Tecendo o amanhã – convoca todos os estudantes universitários do município de Santarém para uma PLENÁRIA MUNICIPAL DA UES, cujo tema será a redivisão territorial do estado do Pará, observado o que se segue:
1) A Plenária Municipal da UES ocorrerá no dia 10 de setembro de 2011, a partir das 14 horas, no Auditório da Casa de Cultura de Santarém, e terá como objetivo promover o debate sobre a proposta de criação dos estados do Tapajós e Carajás, bem como definir um posicionamento da entidade sobre o tema em questão;
2) A Plenária será dividia em duas partes: I) Mesa de debate sobre a redivisão territorial do Pará – com a participação de especialistas, pesquisadores e entidades interessadas no tema; II) Discussão e deliberação da posição da UES sobre a criação dos novos estados;
3) A programação será aberta ao público em geral, porém, na parte II, em que se decidirá a posição da entidade, poderão votar apenas os estudantes regularmente matriculados em instituição de ensino superior no segundo semestre de 2011;
4) A inscrição dos estudantes universitários é gratuita e acontecerá no período de 30/08/2011 a 09/09/2011, na sede da UES* ou a qualquer integrante da diretoria da entidade, e no dia da Plenária (10/09), das 13h às 14:30h, na Casa de Cultura de Santarém;
5) Os estudantes universitários inscritos para a Plenária deverão efetuar o seu credenciamento no dia 10/09, no local da Plenária, das 13h às 15h, momento no qual cada estudante receberá seu crachá de delegado, que lhe dará possibilidade de votar;
6) Para efeitos de comprovação da situação de estudante universitário, será exigida no ato do credenciamento, a apresentação da Carteira estudantil da UES ou de comprovante de matrícula emitido pela respectiva instituição de ensino superior;
7) O crachá é documento individual e intransferível e deverá ser utilizado exclusivamente pelo estudante universitário que o recebeu da mesa de credenciamento da Plenária. A utilização indevida do crachá sujeitará os infratores a sanções de ordem penal e civil correspondentes;
8) Para mais informações, entrar em contato com a diretoria da UES, através do número (093)3063-4183, ou no endereço Trav. Turiano Meira, 187, altos, Centro, Santarém/PA.
Santarém/PA, 29 de agosto de 2011.
Ib Sales Tapajós
Coordenador geral da UES

* A sede da UES fica localizada na Trav. Turiano Meira, 187, altos, Centro, Santarém/Pará. Telefone para contato: (93) 3063-4183
Postado em: http://uesantarem.blogspot.com/2011/08/plenaria-da-ues-estado-do-tapajos-em.html

UFOPA – avanço ou retrocesso na formação de professores para o oeste do Pará?


Vivemos um momento importante em nossa região. Por um lado a possibilidade de emancipação política, econômica e administrativa das decisões de Belém. Por outro, a concretização da implantação da Universidade Federal do Oeste do Pará, a UFOPA. De nosso ponto de vista, ambos trazem a tona uma discussão importante sobre desenvolvimento e o momento é oportuno para um debate aberto e responsável sobre se estes dois eventos realmente significam desenvolvimento para a população do oeste do Pará.
No entanto, apesar da importância da criação do estado do Tapajós, abordarei aqui a implantação da UFOPA. Particularmente a questão: a implantação dessa universidade, sobretudo seu modelo de progressão acadêmica, trouxe avanços para a formação de professores no oeste do Pará?
Muito foi especulado sobre o atual modelo acadêmico-pedagógico implantado na UFOPA. Especulava-se que ele era inovador por ser interdisciplinar e que traria desenvolvimento para a Amazônia. Porém, o fato novo é que, concluído o primeiro semestre da implementação do modelo, temos números para refletir sobre estas especulações.
Do ponto de vista econômico é certo que as cidades diretamente atingidas pela chegada da UFOPA aumentaram suas atividades comerciais e empresariais. Chegaram novos professores, funcionários e alunos de diversas partes do país que demandaram mais dessas atividades econômicas, gerando maior receita, tanto para os comerciantes, empresários e como maior arrecadação por parte dos municípios. Por outro lado, do ponto de vista intelectual intensificam as ocasiões de realizações de seminários, debates, conferências, jornadas acadêmicas em nossa região que, inegavelmente, trazem benefícios para a região. Neles pesquisadores e estudiosos do Brasil e do mundo ficam acessíveis à população local em um espaço público para troca de conhecimento. É lugar comum encontrar nas universidades federais eventos desta natureza.
Todavia, os números relativos ao ingresso dos alunos no Instituto de Ciências da Educação apontam que, ao contrário do que foi divulgado pela administração superior da universidade, o modelo de progressão acadêmica que está sendo implementado na UFOPA representa um retrocesso na formação de professores. Basta, para consolidar nosso argumento, o fato de que mais da metade das vagas disponíveis para o instituto que abriga as licenciaturas ficaram vazias. Tampouco somos favoráveis ao regime anterior, onde o aluno disputava diretamente a carreira que desejava seguir. Mas é fato que no antigo regime as vagas das carreiras do magistério quase sempre ficavam totalmente preenchidas.
Porém, para melhor compreensão de nosso argumento é preciso fazer um resgate do modelo de promoção acadêmica em implantação na UFOPA. Em resumo, neste modelo, entram mil e duzentos alunos na universidade, via ENEM, para o Centro de Formação Interdisciplinar. Uma espécie de ciclo básico, porém, com o particular de os alunos ainda não terem curso definido.  Após um semestre de aulas os alunos “escolhem” (lembrando que escolhe primeiro o aluno com maior nota no Índice de Desenvolvimento Acadêmico – IDA) um dentre os cinco institutos da universidade. Então o aluno ingressa em um dos cinco institutos da UFOPA. O aluno ainda não tem curso definido. Porém, já poderá estar no instituto que abriga o curso de sua preferência, desde que seu IDA permita a escolha dessa preferência (vale lembrar que quarenta por cento do IDA é composto por uma prova de múltipla escolha aplicada no mesmo dia, local e horário para todos os alunos, semelhante a um vestibular).
Assim, decorrente deste modelo e sob os argumentos (que não examinarei sua pertinência  aqui) de que os jovens são imaturos para escolher sua futura profissão, de que é preciso ter uma base interdisciplinar antes desta escolha, etc., mil e duzentos alunos ingressaram na UFOPA sem saber qual sua futura profissão!
No entanto, os números referentes à concorrência dos vestibulares de todo o país apontam que há carreiras que são historicamente mais concorridas que outras. Sendo assim, as carreiras mais concorridas, por exigirem mais empenho dos candidatos para serem aprovados, fazem com que estes absorvam mais conteúdos do que aqueles que intencionam carreiras historicamente menos concorridas. Não examinarei à questão da meritocracia ou do esforço individual, mas decorre deste fato que, dentre os ingressantes da UFOPA, houveram mais alunos que escolheram por cursos de carreira mais concorridas, uma vez que foi exigido dos candidatos uma preparação mais forte. Por exemplo, apesar de o curso de Direito disponibilizar quarenta vagas, os números comprovam que ingressaram na UFOPA muito mais do que este número, uma vez que, este curso exige mais dos seus candidatos. Assim, após um semestre de estudos como aluno regular da universidade muitos que escolheram a advocacia como profissão terão que escolher outra carreira ou abandonar a UFOPA.
Por outro lado, ser professor pouco é estimulado no Brasil, sobretudo dentre os adolescentes que compõem o universo de estudantes secundaristas. Baixos salários, condições precárias de trabalho, violência no ambiente escolar, etc., poderiam explicar este desestímulo. Fato é que tal desestímulo acarreta menor concorrência entre os vestibulandos para os cursos de licenciatura.  Decorre daí que um menor número de ingressantes que desejavam cursar carreiras do magistério compôs o universo de alunos ingressantes na UFOPA.
Examinando os números relativos à saída dos alunos do Centro de Formação Interdisciplinar e ingresso nos Institutos, os números denunciam que das trezentas vagas disponíveis no instituto no qual as carreiras do magistério estão vinculadas, o Instituto de Ciências da Educação – ICED, apenas cento e quarenta foram preenchidas. Ou seja, decorrente deste modelo de progressão acadêmica, cento e sessenta vagas das carreiras do magistério não foram preenchidas. Com isso, os números comprovam que o atual modelo de progressão acadêmica em implantação  na UFOPA diminuiu mais ainda o ingresso dos jovens nas carreiras do magistério.
Sendo assim, do ponto de vista da formação de professores o sistema de progressão acadêmica implementado na UFOPA não constitui desenvolvimento para nossa região. Pelo contrário, constitui retrocesso.
Neste sentido, gostaríamos de publicamente questionar para quem o sistema de progressão acadêmica em implantação na UFOPA, alicerçado em um entendimento superficial de interdisciplinaridade, constitui desenvolvimento. Aproveito para solicitar esclarecimento público desta questão uma vez que ela diz respeito a toda população do oeste do Pará uma vez que ela pode estar sendo prejudicada por, possivelmente, haver no futuro menos professores formados por uma instituição federal de ensino superior para educarem seus filhos.
Autor: Gilberto César Lopes Rodrigues
 
Santarém, 30/08/2011