terça-feira, 7 de julho de 2009

Peru: o genocídio silencioso dos últimos indígenas não contatados.

O Governo do Peru é responsável não apenas pela aberta repressão dos povos amazônicos que está levando a cabo nestes dias, mas também pelo genocídio silencioso dos últimos grupos de indígenas não contatados que ainda vivem em isolamento voluntário em seus territórios ancestrais.
Como está documentado em um relatório recente de Survival International, um desses casos está acontecendo com os povos indígenas que moram ao longo do Rio Envira no departamento peruano de Ucayali.
Madeireiros ilegais têm invadido o território que pertence aos índios isolados no sudeste do Peru, obrigando-os a escapar cruzando a fronteira próxima ao Brasil, onde eles correm mais risco de entrarem em conflito com outros índios, também isolados, que já se estabeleceram no Brasil. Uma comunidade das
que já se encontram no Brasil foi o sujeito das fotos publicadas no ano passado.
Os madeireiros estão em busca, principalmente, de mogno e cedro. O Peru dispõe de algumas das últimas árvores de mogno do mundo viáveis para comercialização. “(Tem havido uma) migração forçada de grupos no Peru, causada pela exploração do mogno nas cabeceiras dos rios Juruá, Purus e Envira (rios peruanos)”, diz José Carlos Meirelles, chefe do posto da FUNAI.
Apesar das evidências encontradas e mostradas, o governo do Peru ainda falha em aceitar publicamente que os índios isolados estão fugindo do Peru para o Brasil. O presidente do Peru, Alan Garcia, chegou a insinuar que tais tribos não existem.
Um outro caso é o dos indígenas Napo-Tigre no Departamento de Loreto. Empresas petroleiras multinacionais estão trabalhando dentro dos territórios de pelo menos duas tribos isoladas entre os rios Napo e Tigre no norte do Peru.
Uma delas, Perenco (uma empresa anglo-francesa), revelou recentemente suas intenções de mandar centenas de trabalhadores para essa região. De acordo com os porta-vozes da empresa, um poço de petróleo já foi perfurado.
A região onde Perenco está atualmente trabalhando no Peru fica no meio de uma área proposta para ser criada como reserva para os índios. No entanto, a presença da Perenco nesse território é rejeitada pelas organizações indígenas do Peru, as quais já entraram com alguns processos em contra da empresa.
A identidade dessas tribos isoladas ainda não é totalmente clara, mas se acredita que um deles é um sub-grupo dos ‘Waorani’, e o outro é conhecido com os ‘Pananujuri’. No entanto, a petroleira Perenco nega a existência dessas tribos.
O presidente da Perenco, François Perrodo, se encontrou recentemente com o presidente do Peru, Alan Garcia, e dias depois, uma lei foi assinada declarando que o trabalho da Perenco nessa região é uma ‘necessidade nacional’.
Outras empresas envolvidas na região dos rios Napo e Tigre são a Repsol – YPF, ConocoPhillips, a empresa nacional de petróleo colombiana, Ecopetrol, e a empresa nacional de petróleo brasileira, Petrobrás.
As tribos isoladas enfrentam duas principais ameaças para sua sobrevivência. A maior é a falta de imunidade desses índios às doenças comuns para os ‘brancos’, tais como a influenza (gripe comum), varicela, sarampo, além do contágio de diferentes doenças respiratórias. Mesmo quando o ‘primeiro contato’ entre uma tribo isolada com estranhos é cuidadosamente preparada, é bastante comum que números significativos desses índios recém contatados morram nos meses consecutivos.
E quando o ‘primeiro contato’ não é preparado com planos médicos já implantados, a tribo inteira, ou uma grande porção dela, corre enormes riscos de ser exterminada. Catástrofes como esta vêm ocorrendo muito comumente na Amazônia, e não apenas em um passado distante: em 1996, por exemplo, ao menos metade dos índios Murunahua no Peru morreram depois de serem contatados por madeireiros ilegais de mogno. Outra ameaça chave é simplesmente a violência: em muitos dos casos que serão retratados nesse relatório, as tribos indígenas enfrentam e enfrentaram quadrilhas de madeireiros fortemente armados dispostos a atirar sem sequer hesitar.
Ao negar-se a reconhecer a existência desses grupos e ao permitir –e inclusive promover- a entrada dos madeireiros e das companhias petroleiras em seus territórios, o governo do Peru é culpado do genocídio.
Artigo baseado em informação do relatório de Survival International “Um ano depois: tribos isoladas sofrem perigo de extinção”, 29 de maio de 2009.
Boletim número 143 do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
Fonte>>>Boletim Mensal do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
Este boletim também está disponível em francês, espanhol e inglês
Editor: Ricardo Carrere

Um comentário:

Anônimo disse...

No Peru os massacres da época colonial continuam, no Brasil as armas de destruição cultural, são outras porque convencem o povo da Amazônia de que não somos índios. Assim negamos nossa identidade em favor de uma identidade que não é nossa, e nos destrói.
Isso me faz lembrar de uma apresentação numa escola de Santarém, onde o palestrante (Inácio Regis) apresentou um slide com os "motivos porque não devemos ser índios". Não me admiro do senhor Inácio se prestar a uma coisa como está, mas a SEDUC deixar, isso sim causa estranheza, pois é política do governo a questão do autoreconheciemto da etnia, cultura, raça, cor..ou qualquer desses termos que tentam nos enquadrar.
Ser indígena não é uma escolha, é uma condição que todos temos direito de definir.
Se você sente que a morte de indígenas tem tudo a ver com os planos ambiciosos para a Amazônia toda, você também é indígena e pode estar ameçado sem saber.
Precisamos articular nossas forças e ecoar o grito nativo.