terça-feira, 3 de maio de 2011

Nossas hidrelétricas amazônicas


Ontem, todo um açodamento num ano de eleições presidenciais para estruturar o projeto Belo Monte de forma voluntariosa e de qualquer jeito, ao tempo em que artistas internacionais davam palpites sem nenhum embasamento; depois, a revolta nos canteiros de Jirau sob múltiplas queixas; e, agora, um órgão internacional querendo imiscuir-se em decisões soberanas sobre a construção das hidrelétricas na Amazônia.

Em resumo é o que podemos pinçar do movimento contra o direito legítimo e indelével de virmos a explorar nossos recursos naturais na Amazônia brasileira de forma soberana e cuidadosa, pois sabemos que o futuro do País interessa precipuamente aos brasileiros e energia e meio ambiente são de nosso interesse e base para a manutenção de nossa independência.

Salientando que entre os chamados Brics o Brasil é o único que possui independência energética, o que poderia estar por trás desse cenário de agressões à nossa soberania?

Uma das possibilidades estaria ligada à nossa competitividade internacional, dada pela energia elétrica das nossas hidrelétricas ser mais competitiva - resolvido o problema de tributos e encargos -, que nos permitiria alcançar mercados para nossos produtos industrializados, antes dominados por outros países.

Outra possibilidade poderia ser dada pela idílica percepção de que a energia das eólicas e a biomassa poderiam suprir a energia demandada na base da carga do sistema elétrico. Sabendo da sazonalidade de uma e da intermitência da outra, só a ingenuidade levaria a supor que elas poderiam substituir as hidrelétricas, assegurando a energia necessária ao crescimento econômico. Não estaríamos, em momento algum, desconsiderando o desenvolvimento dessas duas fontes e sua complementaridade às hidrelétricas. Mas, como hoje está definido, essas fontes se constituem em energia de reserva.

Com os recentes eventos ocorridos no Japão, as nucleares passarão por um período de rediscussão sobre sua ampliação na matriz energética mundial. Enquanto se aguarda o seu retorno, já que o mundo não pode abrir mão de qualquer forma de energia, vai ocorrer um crescimento das térmicas a gás natural e a carvão, tendo em vista que as térmicas solares ainda precisam de muitos investimentos para se tornarem fonte de geração de energia confiável e economicamente viável.

Pelo que se pode depreender desse cenário, é preciso que sejamos competentes para analisar com serenidade e objetividade a construção das nossas hidrelétricas na Amazônia, bem como das respectivas linhas de transmissão para assegurar o aproveitamento dos mais de 60 mil MW. Mas, para que isso ocorra de forma a usufruir dessa riqueza, é preciso voltar a construir reservatórios compatíveis com as mudanças climáticas e plurianuais que nos permitam contar com a geração nessas hidrelétricas durante todo o ano.

Logicamente estamos falando de hidrelétricas com reservatórios compatíveis à acumulação de volumes consideráveis de água, respeitada a preservação ambiental de maneira consequente, tendo sempre presente o baixo impacto que estariam causando ao meio ambiente. Os atuais reservatórios a fio d"água, como se quer hoje impor, causam prejuízos econômicos que se pode depreender da derivação do grande investimento para uma quantidade de energia assegurada pequena e poucos benefícios ambientais - já que necessariamente as térmicas terão de ser acionadas.

A visão idílica, ingênua, que dá projeção midiática, tem de ser revertida para que o País ofereça preços de energia elétrica competitivos, aproveitando sua vantagem comparativa vis-à-vis a outros países dada pela construção de suas hidrelétricas.

Assim nosso governo deve interpretar a ação dos órgãos contrários ao nosso desenvolvimento com a abrangência que nos inquieta.

RESPECTIVAMENTE, DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE) E ENGENHEIRO, CONSULTOR NA ÁREA DE ENERGIA E NEGÓCIOS E DIRETOR DA ABEL HOLTZ & ASSOCIADOS 

Fonte: O Estado de S.Paulo

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