Os projetos das usinas hidrelétricas do Madeira entraram mais uma vez ontem na berlinda depois que a organização "Survival International" divulgou a notícia de que o banco Santander havia suspenso o financiamento para a usina de Santo Antônio, que está sendo construída em Rondônia. Uma carta enviada pela alta administração internacional da instituição financeira à organização não-governamental diz que o banco aderiu aos Princípios do Equador - que prevê uma série de análises ambientais e sócios para financiamentos de projetos - e que por isso suspendeu o financiamento, como se pode ler acima no fac-símile da carta a que o Valor teve acesso.
O banco informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que continua apoiando e fazendo parte do consórcio que financia as obras de Santo Antônio. "Dentro dos Princípios do Equador, os bancos têm feito monitoramento permanente do projeto", disse a nota do Santander. O banco, entretanto, perguntado diretamente, não negou a autoria da carta.
O financiamento foi fechado em 2008 por meio de um "project finance" com recursos do BNDES e repassados, em parte, por um consórcio de bancos liderados pelo Santander. Bradesco, Banco do Brasil e Itaú BBA são os outros repassadores. Todos eles, signatários dos "Princípios do Equador", que estabelece uma série de critérios sociais e ambientais para a concessão de empréstimos. Juntos com o BNDES, esses bancos emprestaram mais de R$ 6 bilhões à concessionária que tem como sócios a Odebrecht, Furnas, Andrade Gutierrez, Cemig, Banif e FI FGTS.
A carta enviada à "Survival International" é datada no dia 25 de março de 2011 e assinada pelo diretor global de responsabilidade social do grupo Santander, Joaquin de Ena Squella. O documento foi enviado com cópia à presidente mundial do banco, Ana Botín, que foi quem recebeu primeiramente os questionamentos da Survival International, que questiona, entre outras coisas, a mortandade de peixes (nove toneladas morreram no início da obra) e o fato de que tribos indígenas estariam sendo afetadas com a construção de hidrelétricas na região Amazônica.
Diz trecho da carta enviada pelo Santander: "... o Banco Santander Brasil foi um dos participantes originais no financiamento... No entanto, desde então, o Santander aderiu aos Princípios do Equador.... Como resultado, o financiamento para o projeto está em suspenso, com o Santander e outros bancos tendo solicitado mais estudos de impactos sociais e ambientais".
Os outros bancos foram procurados mas não quiseram fazer comentários. O Banco do Brasil, Itaú e Bradesco também são repassadores do empréstimo de mais de R$ 7 bilhões para a usina de Jirau. Recentemente, as obras da usina foram paralisadas em função de ataques feitos pelos próprios obreiros que deve resultar em uma grande redução da mão de obra na usina. Esse tipo de situação, segundo os Princípios do Equador, pode caracterizar "default" em empréstimos.
Questionados, apenas o Banco do Brasil deu informações e disse que não há problemas no financiamento a Jirau pois entende que, se os problemas são resolvidos, os Princípios do Equador não são feridos.
Fonte: Valor Econômico
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