Santarém, 18 de Junho de 2011
Reunidas em Santarém na Conferência Regional de Políticas para as Mulheres nós mulheres feministas, quilombolas, pescadoras, indígenas, ribeirinhas, trabalhadoras do campo, da cidade e da floresta, integrantes de movimentos sociais, alertamos que nossa Amazônia corre riscos, porque se tudo sair como os governos querem, nos próximos 40 anos a Amazônia pode estar devastada pela construção de nada menos que 302 barragens. Por isso, decidimos firmar uma aliança das mulheres em defesa das águas e contra as barragens. As barragens não trazem somente prejuízo ao clima e ao meio ambiente. As barragens são parte do modelo de desenvolvimento da economia capitalista e estão a serviço do projeto da exploração das pessoas e da natureza para o enriquecimento de poucos.
Este modelo de desenvolvimento que devora os nossos rios para o lucro do mercado, transforma nossas águas, as matas, os animais em mercadoria e em nada contribui para transformar nossas vidas, ao contrário. O crescimento capitalista destrói nossos meios de vida, prejudica as condições de nosso trabalho e de autonomia econômica para as mulheres, ameaça a posse sobre nossos territórios.
Sabemos que todos os grandes projetos de infra-estrutura sempre trouxeram destruição e morte aos modos de vida dos seus povos originários e populações tradicionais em benefício de grandes grupos econômicos. A construção de hidrelétricas como a de Tucuruí, no Pará, Samuel em Rondônia, Estreito no Tocantins e Balbina no Amazonas são exemplos claros dos males que esse modelo de desenvolvimento produz.
As ameaças que vem sofrendo as populações dos rios Tapajós, Madeira, Teles Pires e Xingu também são motivos de nossas preocupações, ocasionadas pelos falsos discursos de progresso, desenvolvimento, geração de emprego e melhoria da qualidade de vida, vendidos pelos governos e consórcios das empresas em uma clara demonstração do uso da demagogia em detrimento da informação verdadeira.
O que temos visto na instalação desses grandes projetos são a expulsão de famílias ribeirinhas, quilombolas e indígenas de suas terras, desestruturando suas vidas, aumento da marginalidade, prostituição, tráfico e consumo de drogas, aumento de doenças sexualmente transmissíveis e assassinato de lideranças que denunciam os grileiros, madeireiros, sojeiros.
Temos clareza das consequências negativas para a maioria da população e muito lucro para uma minoria de beneficiados.
ASSIM DECLARAMOS E ALERTAMOS:
- A Terra, nossa casa comum, se encontra ameaçada por uma hecatombe climática sem precedentes na história. O derretimento dos glaciares dos Andes, as secas e inundações na Amazônia são apenas os primeiros sinais de uma catástrofe provocada pelos milhões de toneladas de gases tóxicos lançadas na atmosfera e os danos causados à Natureza pelo grande capital, através da mineração descontrolada, a exploração petrolífera na selva e o agronegócio.
- A Terra não nos pertence. Pertencemos a ela. A Natureza é mãe, não tem preço e não pode ser mercantilizada e não pode serpropriedade e privilégio de alguns;
- Terra e água são bens comuns e não podem ser comercializados;
- Todo latifúndio é um crime contra a humanidade e como tal deve ser combatido;
- Reafirmamos nosso repúdio à exploração privada dos recursos naturais;
- O direito dos povos originais de manterem suas culturas, suas identidades e seus territórios são sagrados;
- Povos indígenas e quilombolas devem ter suas terras demarcadas e juntamente com as comunidades tradicionais ter reconhecidos seus direitos;
- Que Somos contra os modelos energéticos que alteram a geografia, destroem o meio-ambiente, desalojam populações, afogam culturas, gerando miséria e sofrimento;
- Que Somos contra o agronegócio e modelos que exploram a terra com o intuito de lucro;
- Que Defendemos o direito inalienável de todos os seres humanos de viverem em paz, com saúde, educação, moradia, transporte e todas as garantias para desenvolverem plenamente suas potencialidades;
- Que Lutamos por uma sociedade sem exclusões, com liberdade, justiça e soberania popular. Combatemos no dia-a-dia todas as formas de exploração e discriminação baseadas em gênero, etnia, identidade sexual e classe social;
- Reafirmamos nossa identidade amazônida através de nossas múltiplas faces, honrando a tradição e construindo o novo. Fazem parte desta identidade as línguas originais dos nossos povos e seus conhecimentos tradicionais;
Queremos Nossos Rios Vivos e Livres! RIOS PARA A VIDA E NÃO PARA A MORTE!
NÃO ÀS HIDRELÉTRICAS NO TAPAJÓS E XINGU!
As mulheres são como os rios, ficam mais fortes quando se Juntam!
Fonte: Xingu-Vivo.blogspot.com
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