quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ministros da Agricultura e do Meio Ambiente se desentendem em audiência na Câmara dos Deputados.

Um desentendimento entre os ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e do Meio Ambiente, Carlos Minc, marcou a audiência realizada ontem (23) pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados. Stephanes chegou a classificar como antiética a atitude de Minc de criticar um profissional da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que elaborou um estudo mostrando que o crescimento da produção agrícola está engessado pela grande quantidade de áreas de proteção ambiental.
A audiência começou sem a presença de Minc, com o diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Bráulio Ferreira de Souza, desqualificando a pesquisa feita por Evaristo Miranda, diretor da Embrapa Monitoramento por Satélite.
Na sua vez de falar o ministro Reinhold Stephanes discordou da avaliação do diretor do MMA. “O técnico do MMA desqualificou claramente a Embrapa Monitoramento por Satélite, uma unidade criada há 20 anos no sentido de trabalhar em assuntos de interesse nacional”, disse Stephanes no momento da chegada de Minc à sala da audiência.
Numa rápida entrevista aos jornalistas, Minc defendeu a posição Bráulio Ferreira de Souza contra o estudo do diretor da Embrapa. “Não estamos criticando a Embrapa, que é uma maravilha da natureza, e sim um único estudo, feito por um pesquisador”, disse o ministro do Meio Ambiente. Depois, ao falar para os deputados da comissão, MInc também criticou o estudo feito por Evaristo Miranda.
A crítica do ministro do Meio Ambiente voltou a causar indignação no ministro da Agricultura na parte final da audiência, que se referiu ao assunto quando Minc já havia deixado o local. “Tentou-se aqui desqualificar um técnico, o que eu acho uma tremenda falta de ética, e que não foi quem fez o estudo. Foi um conjunto de técnicos, com doutorado em Meio Ambiente, e a meu pedido”, disse.
O ministro da Agricultura também explicou o motivo que levou, no fim do ano passado, ao encerramento das negociações entre os dois ministérios em torno do Código Florestal. Stephanes disse que sempre procurou o consenso, mas quando o acordo estava praticamente fechado, o MMA apresentou mais alguns pontos, entre eles, um que o deixou “chocado”. “Exigiam três anos de cadeia aos produtores infratores do Código Florestal. Minc disse que não estava presente quando aprovaram o novo item, mas mesmo assim foi lá e o apresentou”, afirmou Stephanes para os parlamentares.
Segundo Setephanes, cerca de 3 milhões de proprietários estariam na condição de infratores levando-se em consideração a legislação ambiental. Ele ainda reproduziu uma frase que teria dito ao ministro Carlos Minc na última conversa que tiveram sobre o assunto: “Desculpa [Minc], mas perdi a confiança no seu diálogo”. Mesmo assim, de acordo com o ministro da Agricultura, estaria a aberto a conversar outra vez sobre o tema com Minc.
Edição: Aécio Amado
Matéria de Danilo Macedo, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 24/06/2009.
Nota do Ecodebate: Um ‘ótimo’ exemplo de desonestidade intelectual pode ser percebido no ‘estudo’ da Embrapa permanentemente usado como referencia pela bancada ruralista e pelo ministro Reinhold Stephanes. Na verdade é um estudo de Evaristo Miranda, chefe da Embrapa Monitoramento por Satélite, o qual afirma que, aplicada a legislação ambiental e indigenista, sobram 29% de território para agricultura e energia no Brasil.
A primeira ‘impropriedade’ está em conceituar um estudo de um pesquisador da Embrapa como um estudo da Embrapa.
O ministro Minc, corretamente, destacou que “Não estamos criticando a Embrapa, que é uma maravilha da natureza, e sim um único estudo, feito por um pesquisador”. Em nenhum lugar do mundo, no Brasil inclusive, um pesquisador não se confunde com a Instituição em que trabalha e pesquisa.
Só este estudo está defendido bancada ruralista e pelo ministro Reinhold Stephanes, desprezando muitos outros e, principalmente, diversas críticas técnicas, metodológicas e conceituais de outros pesquisadores, inclusive da própria Embrapa.
Um exemplo da crítica: “A Amazônia e Pantanal são biomas muito especiais. É desonestidade intelectual misturá-los com os outros, porque sabe-se de antemão que não têm vocação agrícola“, diz o professor da FEA-USP José Eli da Veiga. “Miranda faz o cálculo bioma por bioma, junta tudo e diz que é menos de 30%. Isso é manipulação de dados”, alerta. Ele lembra que a soma das áreas, no próprio estudo, dos biomas com aptidão agrícola, dá 65% . “É muito mais que os 40% de terra disponível nos EUA. E isto o estudo não diz.
De acordo com Sergio Leitão outros técnicos da Embrapa apontam que se trata de um estudo falso e de uma falsa questão. “Mas se estivesse certo, 30% do Brasil são 240 milhões de hectares, é coisa para caramba“, diz um deles. “Daria quatro vezes a nossa safra, então, qual é o problema?“, continua. “A questão real é aumentar a produtividade agrícola e recuperar as áreas degradadas.
Fonte>>>Portal EcoDebate > http://www.ecodebate.com.br/2009/06/24/ministros-da-agricultura-e-do-meio-ambiente-se-desentendem-em-audiencia-na-camara-dos-deputados/

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