quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dorothy Stang, a Máfia da Sudam e a indústria global do aço.

 Desde o final de dezembro, a tensão está aumentando na região do assentamento Esperança, nas margens da rodovia Transamazônica, em Anapu (PA). Visto em perspectiva, o que acontece hoje em Anapu mostra um movimento importante nas peças da política local. Os coronéis estão apertando o cerco para retomar as rédeas da devastação ambiental no noroeste do Pará.
Esperança é o assentamento onde mataram a Irmã Dorothy Stang em 2005. De lá pra cá, a região continua sendo controlada por pistoleiros a serviço dos coronéis da política regional.
Vitalmiro Moura, o Bida, e Regivaldo Galvão, o Taradão, foram condenados como mandantes do assassinato da missionária. Dois pistoleiros também foram condenados. Aparentemente, o caso está resolvido. Mas só aparentemente.
Taradão e Bida não agiram sozinhos. Ao estilo da Máfia, eles foram escalados para sujar as mãos e “resolver” o caso: matar a freira e liberar a área para a retirada ilegal de madeira. Por trás deles existe um grupo criminoso do qual fazem parte políticos, empresários e servidores do governo do Pará.
O grupo atua hoje no desvio de madeira para a produção de carvão para a indústria global do aço. Como as siderúrgicas de Carajás não tem como obter carvão certificado, conforme acordo firmado com o Ibama em julho de 2008, é imperativo que o Pará fique liberado para a ação dos desmatadores. Do contrário, as siderúrgicas do estado entrariam em colapso, já que 60% da produção depende da queima de madeira ilegal.
O problema afeta uma extensa cadeia produtiva, pois 90% da produção do pólo de Marabá é exportada.
O lobby dos desmatadores é poderoso. Em 2010, conseguiram afastar o delegado do Ibama que atuava na região. O esforço pelo afastamento do servidor foi liderado pela própria governadora do Pará, Ana Julia Cerepa. Ela escreveu uma carta ao presidente do Ibama, em Brasília, pedindo a cabeça do delegado Roberto Scarpari, que atuaria, segundo a governadora, “contra o desenvolvimento da região”.
O delegado Scarpari, que atuava em Altamira e Anapu, era uma pedra no sapato dos desmatadores. Suas incursões semanais aos focos de desmatamento causaram grande prejuízo à indústria da devastação.
Ana Júlia escreveu a carta, arquivada no Ibama sob o número 10100.004528/09-02, a pedido de Délio Fernandes Neto, um dos chefes da famosa Máfia da Sudam, que desviou R$ 132 milhões de projetos de desenvolvimento para a região.
Délio é vice-prefeito de Anapu e isso não é uma coincidência.
Ana Julia, que não foi reeleita, teve como principais financiadores, segundo dados do TSE, mineradoras e siderúrgicas, o que também não é uma coincidência.
Pela região do assentamento Esperança, em Anapu, passa a artéria que irriga um dos mais importantes grupos criminosos da Amazônia. É um consórcio formado por empresários, políticos e funcionários públicos que se uniram para depredar um dos mais importantes patrimônios ambientais do planeta.
O caso será revelado em detalhes no dia 17 de fevereiro, data do lançamento de uma edição especial da revista Observatório Social. Intitulada A Floresta que virou Cinza, é uma revista inteira dedicada a investigar a rede criminosa que atua no Pará. A reportagem vai mostrar, por exemplo, porque três fatos aparentemente isolados devem ser vistos como parte do mesmo esquema: o desvio de R$ 132 milhões pela Máfia da Sudam, o assassinato da missionária Dorothy Stang e o desvio de centenas de milhares de metros cúbicos de madeira para abastecer as siderúrgicas do Vale dos Carajás e a indústria global de aço.
Para participar do lançamento inscreva-se pelo site do Observatório Social.

*O autor, Marques Casara, é diretor editorial da Papel Social Comunicação e repórter especial da revista Observatório Social.
Fonte: Ecodebate

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