Por Iremar Antonio Ferreira em 24/02/2010
"As usinas estão provocando mortes no distrito de Jaci-Paraná; os grandes estão grilando terras para tirar madeira e receber indenização das empresas... terras da União, dos ex-soldados da borracha e tem pessoas do Incra apoiando esta grilagem. Os ribeirinhos que moravam nas terras tiveram suas casas derrubadas, queimadas, até trator esteira foi usado para passar por cima... através do Conselho Comunitário, que a Santo Antonio Energia incentivou para que pudéssemos garantir nossos direitos, nós denunciamos esta violência e agora estão matando os pequenos só porque tem ação no Ministério Público... é os grandes sufocando os pequenos e com apoio de policiais... vivemos em estado de medo, já mataram um e os outros se não fugirem vão ser mortos"... Este depoimento foi feito em meados de novembro de 2009, pouco depois do assassinato do pescador Osmar Lima (tesoureiro do Conselho) e pouco antes do jovem líder comunitário Maurete Nogueira Gomes pegar o ônibus e fugir para o exílio, deixando pais e filho de apenas cinco anos para continuar vivo, só porque se colocou em defesa de seus amigos... uma semana depois, "Baianinho" que era testemunha de Osmar deixou a canoa arrumada para subir o rio e fugir do medo mas não teve tempo, foi assassinado e seu corpo encontrado dias depois longe da beira do rio Jaci... Maurete, antes de viajar ainda ligou para seu amigo Izaías (secretário do Conselho), e disse que se escondesse para não ser assassinado, mas este esperava que a Justiça fosse feita antes de sua morte... lamentavelmente no início de janeiro de 2010 este foi brutamente assassinado e seu corpo até a data de hoje não foi encontrado... No início de fevereiro policiais e civis pistoleiros foram presos e começou-se a desvendar os crimes, mas isso não basta, o povo de Jaci vive num estágio de medo intenso... e exige das empresas e da administração pública respeito, compensações e indenizações por tantas perdas materiais, culturais e emocionais... Já em Mutum Paraná os moradores atingidos pela usina de Jirau deparam-se com a mesma situação de abandono pelas autoridades e nas mãos das empresas. Denunciam que suas vidas pararam no tempo. Não podem melhorar suas moradias por que não serão indenizados após o levantamento de benfeitorias de 2008. Quem tem pequenos comércios não terão a mesma oportunidade na Nova Mutum. Metade da população que tira sua renda do garimpo aluvial no Madeira, perderão a atividade de geração de renda pois o rio estará sempre cheio... denunciam que o novo lugar é num lugar rochoso que inviabilizará qualquer atividade agrícola.
O chamado "reassentamento em agrovilas" é um exemplo a não ser seguido em lugar algum, pois não levam em conta a modo de vida das pessoas que vivem em função do rio, transferi-los para terra firme e trancafia-los em casas de alvenaria (algumas construídas caindo partes), pequenos lotes de terra é aprisiona-los á morte cultural, física, alimentar... estas milhares de famílias passaram da condição de provedores de seus sustentos numa relação recíproca com o rio para a condição de dependentes das empresas e ou do poder público... é este modelo de sustentabilidade que queremos em nossa Amazônia?
Sinais de resistência e de proposições nascem da organização dos atingidos. Em Jaci-Paraná os atingidos nos lotes rurais e urbanos na beira do rio ou em Mutum-Paraná, Assentamentos Joana D'Arc, reivindicam reassentamentos que contemplem espaços que incorpore os membros das famílias, geralmente mais de 6 pessoas, bem como espaços físicos que lhes permita implementar atividades produtivas coletivas e individuais para gerar rendas e autonomia. Esta luta é fortalecida pela presença incansável do Movimento dos Atingidos por Barragens e do Instituto Madeira Vivo, o que deve se intensificar cada vez mais para que novas propostas sejam construídas coletivamente, em prol das famílias atingidas, num enfrentamento às empresas para que parte dos lucros seja revertido aos atingidos de fato e de direito.
Fonte: Eco - Finanças
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