Nós, cidadãs e cidadãos da Amazônia, temos a obrigação e a oportunidade ímpar de nos apropriarmos daquilo que a educação alienante e retrógrada nos tomou: nossa identidade amazônica e autonomia como nação latinoamericana. A criação de uma “nova” universidade em Santarém com campus em todo Oeste do Pará, a famigerada UFOPA/UNIAM é o momento histórico que ansiávamos.
Um plano que mata duas universidades, as quais apesar de todo seu notório valor acadêmico nunca foram fortemente incentivadas a conduzir-nos ao auto-reconhecimento e ao diálogo com a cultura amazônica. Cultura menosprezada e ignorada por todos aqueles mecanismos de dominação e colonização.
Nossas universidades, de certo modo, ainda têm o papel cachorro de expropriar-nos de nossas riquezas e manipular a opinião pública levando-nos a acreditar que devemos nos guiar por modelos alienígenas de economia e nos desligarmos de nossas raízes baseadas no coletivismo e na convivência com a natureza.
Não existe povo que possa ensinar mais sobre o coexistir com a Amazônia do que o próprio amazônida. Incluímos aqui pessoas de todo Baixo-Amazonas com sua diversidade, disparidades e necessidades.
Sendo a educação um direito e não um serviço, privilégio ou mercadoria, nós universitários não aceitaremos a desculpa de que não há orçamento para nossas exigências, visto que nossa nova universidade não pode ser vista como um gasto aos cofres públicos, mas sim como um investimento para nossa sociedade. Queremos a construção coletiva da universidade e não o aproveitamento de antigos prédios e ideologias retrógradas. Nova universidade, nova área, novos prédios, nova mentalidade universitária.
Assim, a realização dos ideais pretendidos nesta nova universidade não podem ter êxito sem alguns princípios a serem esclarecidos:
Não aceitamos a imposição de um(a) reitor(a) pro tempore. Queremos escolha direta pela sociedade que será beneficiada pela universidade;
Não admitimos o ENEM como mecanismo justo para avaliar quem deve entrar na nova universidade, principalmente por ele ser um exame nacional que não leva em consideração as especificidades da realidade amazônica. De fato, nossos políticos não valorizam a educação básica, deste modo excluem quase a totalidade dos alunos da escola pública da Amazônia do ensino superior. Lutamos pelo ensino superior público de acesso universal, e por um prova de ingresso com nosso rosto, rosto amazônico!
Não admitimos uma universidade voltada para deformação de nosso futuro intelectual em mão-de-obra para benefício de multinacionais instaladas ilegitimamente em nossa região. Universidade Amazônica para os amazônidas, já!
Não aceitamos que a educação seja a distância ou distante de nossa realidade, não queremos uma educação importada. Queremos uma educação legítima e originária de nosso contexto e que exporte nossa identidade e modo de vida e não nossas riquezas naturais;
O mundo precisa saber que a maior riqueza que os povos da Amazônia podem disponibilizar e ensinar a outros povos é sua cultura milenar que sabe viver de forma digna sem precisar destruir a natureza nem escravizar outros povos;
Conclamamos @s estudantes, professor@s e sociedade em geral que encampem essa luta coletiva que está aberta para você que almeja uma universidade pública, autônoma e libertária.
Santarém, 26 de agosto de 2009.
PARTICIPE DO SEMINÁRIO – A UNIVERSIDADE QUE QUEREMOS – Dia 29/Agosto/2009, a partir das 14:30h, no Auditório Wilson Fonseca/UFPA-Santarém. Será exposto o Projeto da Comissão Popular para a Nova Universidade.
FDA, Pastoral Social, UES, DA (UFPA), CADED, CABIO, CA (UFRA), SINPROSAN, SINTEPP, AMDS, AMBL, FAMCOS, Rádio Rural.
3 comentários:
Criar uma universidade que resgate os valores amazônicos é de extrema importancia para o ensino nesta região.Portanto, defender esta iniciativa é um compromisso que devemos ter com nossas raizes e com nosso desenvolvimento intelectual.
Sinto-me contente pela iniciativa que foi tomada diante das alienações acadêmicas produzidas pelo nosso governo. Desta forma quero manifestar meu apoio que apesar de distante vale a pena.
Juiz de Fora 27/08/2009
Silas Seminarista Verbita
Sobre o processo seletivo, acredito que é um grande acerto afastar o ENEM. Em vez disto, questões voltadas para a história e a geografia local e, ainda, a inclusão de questões de cunho prático e que exigem a observação da realidade, poderiam ser métodos condizentes com o que queremos para a Universidade e a região.
Outro aspecto que gostaria de ressaltar é, salvo engano, não teremos o curso de psicologia e o de arqueologia, que na minha opinião são fundamentais num momento em que povo amazônico busca construir uma identidade própria e uma história autônoma. Aparecem, no projeto, várias "engenherias", ciências que têm se destacado mais na transformação do meio do que em sua compreensão. Onde está a arquiteura...? Espero que esteja incluída.
É louvavel essa minisfestação do FDA a respeito da criação da nova universidade e concerteza é necessario que se descute e apresente projetos a respeito da Universidade que realmente queremos e concerteza a forma de adentrar na UNIAM pelo ENEM e tantas outras discuções como os cursos de Licenciaturas... o fim do curso de Física Ambiental... enfim situações que precisam ser repensadas e analisadas para se ter uma decisão mais coerente possível.
Postar um comentário