Uma operação articulada pelo senador e ex-ministro de Minas e Energia  Edison Lobão está por trás do projeto de retomada da exploração de ouro  no lendário garimpo de Serra Pelada, no sul do Pará. A operação envolve  pagamentos suspeitos a cabos eleitorais de Lobão e um emaranhado de  empresas - algumas de fachada - abertas no Brasil e no Canadá.
O projeto de retomada da exploração do garimpo ganhou força quando  Lobão esteve no comando do ministério, de janeiro de 2008 a março deste  ano. Com aval do governo, a exploração será feita pela Serra Pelada  Companhia de Desenvolvimento Mineral, empresa criada a partir de um  contrato entre a desconhecida Colossus Minerals Inc., com sede em  Toronto, no Canadá, e a Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada  (Coomigasp), que reúne 40 mil garimpeiros e detém os direitos sobre a  mina.
Este ano, por duas vezes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva  chegou a programar visita a Serra Pelada para anunciar a reabertura do  garimpo. Mas as duas viagens foram canceladas de última hora. Nas  palavras de um auxiliar do presidente, a desistência se deu porque o  Planalto avaliou que o acordo com a Colossus é prejudicial aos  garimpeiros. "Os leões querem ficar com todo o ouro", disse o assessor.
Por ordem da Presidência, o Departamento Nacional de Produção Mineral  (DNPM) e o ministério tiveram de firmar um termo de compromisso com a  Colossus em que a empresa canadense se compromete a ajustar cláusulas do  contrato com potencial de prejuízo aos garimpeiros. Até o fechamento  desta edição nada havia mudado.
Como senador e depois como ministro, Lobão atuou pessoalmente em  várias frentes, dentro e fora do governo, para possibilitar o negócio.  Primeiro, operou para formalizar a Coomigasp como proprietária do  garimpo.
Nos bastidores, ainda em 2007, como senador, Lobão atuou para  conseguir que o governo federal convencesse a Vale, até então detentora  da mina, a transferir à cooperativa seus direitos de exploração de ouro e  outros metais nobres em Serra Pelada. A Vale submeteu a proposta a seu  conselho de administração, que concordou em atender ao pedido de  Brasília e, em fevereiro de 2007 assinou um "termo de anuência"  repassando à cooperativa dos garimpeiros o direito de explorar a mina  principal.
No ano passado, já com Lobão ministro, o governo fez nova gestão em  favor do negócio e obteve da Vale os direitos sobre mais 700 hectares de  Serra Pelada.
Ao Estado, o secretário de Geologia e Mineração, Claudio Scliar, que  elogia o desempenho de Lobão na condução da reabertura de Serra Pelada,  admitiu ser amigo de geólogos brasileiros que integram o comando da  Colossus, como Pérsio Mandetta, Darci Lindenmeyer e Augusto Kishida. "O  Darci chegou a ser meu chefe no passado", diz.
Controle. Garantido formalmente o direito da Coomigasp de operar no  garimpo, Lobão lançou outra ofensiva. Desta vez, para tomar o controle  da cooperativa. Num processo conturbado, marcado por ações judiciais e  violência, garimpeiros do Maranhão ligados ao ex-ministro conseguiram  assumir a Coomigasp.
É justamente nessa época que surge a Colossus. A proposta de contrato  com a empresa foi aprovada a toque de caixa pelos associados da  cooperativa. Pelo acerto, a Colossus entra com capital e tecnologia e a  cooperativa cede seus direitos sobre a mina. Pesquisas autorizadas pelo  DNPM indicam haver pelo menos 20 toneladas de ouro no subsolo de Serra  Pelada. Geólogos com acesso às sondagens mais recentes afirmam, porém,  que a quantidade pode passar de 50 toneladas.
O potencial de sucesso da mina é a principal razão da trama. Um  ex-funcionário do gabinete de Lobão no Senado encarregou-se de articular  e defender o contrato com a Colossus. Antonio Duarte, que se apresenta  como assessor do ex-ministro, chegou a criar uma entidade, a Associação  Nacional dos Garimpeiros de Serra Pelada (Agasp-Brasil), para funcionar  como linha auxiliar da Coomigasp na defesa do consórcio.
No escritório em Brasília que serve como sede da Agasp e sucursal da  Coomigasp, fotos de Lobão na parede evidenciam a relação de proximidade  entre o ex-ministro e os encarregados de tocar o negócio com a empresa  canadense.
"Quem é contra esse projeto é contra os garimpeiros", diz Raimundo  Nonato Ramalho, de 77 anos, vice-presidente da Agasp, apontando para um  dos quadros de Lobão. "Esse aí é o nosso patrono, o melhor ministro de  Minas e Energia que o Brasil já teve porque conseguiu reabrir Serra  Pelada."
Antônio Duarte, o presidente da associação, não é o único egresso do  Senado. Na joint venture surgida da associação da Colossus com a  Coomigasp, há outro ex-funcionário da Casa, o advogado Jairo Oliveira  Leite. Também ligado a Lobão, Leite representa a cooperativa de  garimpeiros na direção da companhia. 
Além de facilitar o negócio a partir do cargo, o ex-ministro e  candidato à reeleição ao Senado chegou a participar pessoalmente das  articulações em torno do negócio. O Estado teve acesso a um vídeo que  mostra Lobão, no ministério, reunido com representantes da Colossus e da  Coomigasp para tratar da parceria.
Lama. Apesar do discurso de que o consórcio com a Colossus traria  bons resultados, o texto inicial do contrato firmado entre a cooperativa  e a empresa canadense já indicava prejuízo para os garimpeiros: eles  ficam, literalmente, com a lama da mina e com uma fatia menor do lucro.
A Colossus já entrou na sociedade com 51% de participação na nova  empresa. A Coomigasp ficou com 49%. Pouco depois, sempre com a anuência  dos diretores da cooperativa ligados a Lobão, a Colossus conseguiu  ampliar sua participação para 75%.
Fonte: Estadão
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Fonte: Estadão
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