Os professores da Universidade Federal
de Rondônia (Unir) estão assustados. Desde a prisão do professor de
história Valdir Aparecido de Sousa, em 21 de outubro, por policiais
federais à paisana, em cenas de truculência que circularam em um vídeo
na internet (ASSISTA),
os professores grevistas evitam se expor. Sousa está solto, em
liberdade provisória, mas precisa seguir uma série de determinações
imposta pela Justiça, como não se reunir com os grevistas.
Segundo
os policiais, ele era suspeito de ter jogado uma bomba durante a
confusão (até agora, sem provas nem acusação formal). Junto do professor
de história, foi levada uma câmera de outro professor, de biologia, que
filmava e fotografava a confusão – algumas cenas mostram um dos
policias com arma em punho em meio a estudante e professores. A câmera
foi, depois, recuperada, mas o biólogo decidiu se afastar por um tempo
da cidade de Porto Velho, temendo represálias.
A
greve na Unir, que já dura cerca de dois meses, não tem data para
acabar e deve virar o ano. As negociações estão emperradas. Alunos e
professores estão unidos contra o reitor José Januário de Oliveira
Amaral. Alguns afirmam estar sendo seguidos pela cidade e sofrendo
intimidações.
A reportagem falou
com um dos professores do Comando de Greve, que pediu para não ser
identificado. “Alguns professores tem procurado dormir em locais
diferentes para não sofrer nem um atentado”, afirma. “O negócio aqui tá
feio”.
O que está acontecendo na UNIR?
Pátio na universidade: construção ou ruína? |
A Universidade Federal
de Rondônia tem 29 anos e 7 campi. Segundo o professor grevista, sua
história está marcada por intervenção e manutenção de um mesmo grupo no
poder, o atual reitor está na reitoria há 9 anos, e sua gestão é marcada
pela falta de pragmatismo e conselhos submissos aprovando sua decisões
através de Ad referendum.
A
partir disso, na visão dos grevistas, ele teria uma crise de confiança
na Administração Superior, os professores que apoiam o Reitor são
favorecidos, as verbas e vagas de docentes oriundas do REUNI são
utilizadas através de manobras políticas para favorecer os amigos. Com
isso a Universidade não se estruturou corretamente para executar a sua
função, que é disponibilizar um acesso à educação de qualidade. Os
professores necessitam comprar os equipamentos básicos para dar aula, e
até brigar com colegas para ter acesso a uma sala de aula para lecionar.
Muitos
professores, cansados de brigar por condições básicas de trabalho, saem
da UNIR, ou passam em outro concurso, ou conseguem transferência por
apresentarem problemas psicológico ou por sofrerem ameaças depois de
denunciar as irregularidades no Ministério Público.
Para
exemplificar os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Elétrica,
Engenharia de Alimentos, Engenharia Florestal, Agronomia, Veterinária
não abriram vagas no último vestibular por falta de salas de aula.
Outro
problema é a Fundação de Apoio da Universidade, Fundação Riomar, que
tem as suas contas bloqueadas e está sendo investigada pelo Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), mesmo o Reitor
sabendo das denúncias de desvio não fez nada para sanar os problemas, e
vários projetos de Professores da UNIR foram inviabilizados ou
encerrados devido aos enormes desvios. Segundo a nota do Ministério
Público existe a possibilidade do Januário estar envolvido.
Além
disso, na última semana o laudo técnico do corpo de bombeiros diz que o
campus de Porto Velho apresenta risco de vida aos alunos e
professores.”
Carteiras guardadas com entulho. |
Quase dois meses
A universidade está em greve há 49 dias e o prédio da Reitoria está ocupado pelos estudantes há 28 dias.
As
reivindicações básicas são: limpeza nos campi, contratação de
professores e de técnico-administrativos, construção de laboratórios,
construção de Restaurantes Universitários, Hospital Universitário,
implantação do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI),
transparência nas ações administrativas e prestação de contas sobre os
recursos repassados para os projetos especiais como REUNI e FINEP.
E
a principal é o afastamento do Reitor, já que, para os estudantes e
funcionários, o mesmo não possui condições éticas nem administrativas de
continuar no cargo, tampouco possui legitimidade entre os professores e
alunos.
CartaCapital: Quais os entraves nas negociações?
Professor:
Em 2008, na gestão anterior do atual Reitor, assinou um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) no qual se comprometia em resolver os
mesmos problemas que a UNIR sofre hoje.
Mesmo
com as promessas de 2008, três anos depois os professores e alunos
resolveram tentar negociar com o reitor, que respondeu aos comandos de
greve que já tinham 95% das reivindicações resolvidas ou sendo
resolvidas. Resolvemos então que só negociaríamos com o MEC e pedimos o
afastamento imediato do José Januário do Amaral.
Porém
mesmo com a vinda do Secretário do Ensino Superior, Professor Luiz
Claúdio Costa, o MEC não concordou com o afastamento sem antes fazer um
processo de sindicância, os Professores e alunos não concordam com a
maneira que o MEC resolveu conduzir, pois acreditamos que as denúncias
feitas no relatório de mais de 1.500 páginas que contém provas de
improbidade administrativa, má gestão do recurso público, favorecimento
de amigos, parentes e empresas, concurso públicos com nomeações
irregulares e não comprimento das determinações feitas pelo Ministério
Público, tudo isso cabe o afastamento imediato do reitor.
Hoje
a população, os deputados federais, senadores, Assembleia Legislativa
de Rondônia e outras organizações apoiam a greve, porém o atual Reitor
diz que não se afasta e tem como apoiador direto o senador Valdir Raupp
(presidente nacional do PMDB), dizendo que a melhor solução para o
impasse seria os professores aceitarem o pedido de afastamento por
férias de 30 dias e adiantamento da eleição para reitor para o final de
2012.
CC: Houve algum ato de violência ou que o comando de greve considera repressivo?
Professor: Nesses 50 dias de greve, ocorreram diversos atos de violência e intimidação. Oito deles listados abaixo.
O
primeiro ato de violência ocorreu no dia 29 de setembro, logo depois da
saída de representantes do comando de greve da entrevista dada ao
Programa Rede de Opiniões da REDE TV RO, um carro não identificado
jogaram bombas em direção dos grevistas.
O
segundo ato de violência foi contra a um dos lideres do movimento
estudantil que teve o vidro do seu carro quebrado e nada furtado durante
uma manifestação no prédio da reitoria.
O
terceiro ato: o Reitor não recebeu os alunos e professores durante
assembleia que foi cancelada, a entrada do prédio ficou tomada de
agentes da Policia Federal impedindo a entrada.
O quarto ato: membros do comando de greve estão sendo seguidos, nos seus percursos da casa a UNIR.
Um
quinto ato de violência é a intimidação: alguns professores tem
procurado dormir em locais diferentes para não sofrer nem um atentado.
Sexto
ato: em 21 de outubro, um professor de História, Valdir Aparecido de
Sousa, foi preso pela Polícia Federal de forma totalmente arbitrária,
como foi mostrado num vídeo (ASSISTA AQUI)
Ainda,
um sétimo ato documentado: em 24 de outubro, em uma coletiva, o reitor
chamou os professores grevistas de vagabundos e os alunos de bandidos,
e, por fim, o oitavo ato de retaliação: a Reitoria esse mês não irá
pagar as bolsas dos alunos alegando que não puderam fazer a folha já que
a reitoria está ocupada, porém o sistema é virtual é pode ser feito de
qualquer computador.
CC: A universidade e a
educação estão sendo beneficiadas pelos investimentos nas usinas do rio
Madeira e o investimento no Estado?
Professor:
As Usinas do Madeira tentaram e alguns laboratórios começaram a
funcionar através da parceria feita pela UNIR e Usina de Santo Antônio e
Jirau. Vários bolsistas, graduados e pesquisadores participam de
atividade de pesquisa. Porém a Fundação Riomar, que seria a responsável
de repassar as verbas, começou a desviar os recursos e muitos projetos
foram suspensos devido à falta de recurso que não foram repassados.
O
estado vem auxiliando através de emendas parlamentares, porém os
recursos não foram destinados corretamente, como por exemplo o hotel
escola criado em Guajará-Mirim que nunca funcionou.
Fonte: Blog da UES
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