Após 13 anos de tramitação no Congresso 
Nacional, a reforma do Código Florestal passou pela última etapa de 
votação ontem na Câmara com uma importante derrota para o governo Dilma 
Rousseff. A derrota só não foi maior porque os ruralistas se viram 
impedidos de garantir anistia ampla para os desmatadores, conforme 
desejavam. A recuperação das áreas desmatadas – principal polêmica que 
opôs ambientalistas e ruralistas – será objeto de novas batalhas no 
Congresso.
A reportagem é de Marta Salomon e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 26-04-2012.
O novo Código Florestal, que segue para a
 sanção da presidente, determina que propriedades rurais com rios de até
 10 metros de largura terão de recuperar uma faixa de 15 metros em cada 
margem. Há atenuantes nessa regra para os pequenos produtores. Mas o 
texto é omisso sobre o que fazer com propriedades que têm rios mais 
largos.
Os efeitos dessa omissão dividem a 
opinião de especialistas. Para representantes do agronegócio, as 
demais Áreas de Preservação Permanente (APPs) serão recuperadas com base
 em regras a serem definidas pelos Estados. Para técnicos do governo, 
poderá valer a regra geral aprovada para a proteção das margens de rios,
 que prevê entre 30 metros e 500 metros de vegetação ripária, dependendo
 do tamanho dos rios.
Etapa
Apesar de reunirem uma larga maioria de 
votos na Câmara, os aliados do agronegócio perderam na questão mais 
importante em jogo nessa última etapa da votação. O relator Paulo 
Piau (PMDB-MG) teve de mudar mais uma vez seu texto porque não podia 
mais liberar os produtores rurais de recuperem parte das APPs. A 
exigência havia sido aprovada pela Câmara e pelo Senado e não poderia 
simplesmente desaparecer. Os ruralistas se convenceram de que a disputa 
iria parar no Supremo Tribunal Federal e recuaram.
“O governo ganhou por W.O., por uma 
questão do regimento”, disse o relator. “Tem muita gente de cabeça baixa
 aqui”, completou Piau, que também é produtor rural e integrante da 
Frente Parlamentar da Agropecuária.
O texto do relator foi aprovado por 90 
votos de diferença, 1 voto a menos do que os ruralistas conseguiram 
reunir em maio, na maior derrota política imposta à Dilma Rousseff em 
seu primeiro ano de mandato. Na ocasião, a Câmara dispensou os 
produtores rurais de recuperarem áreas desmatadas até 2008, o que 
equivalia a uma anistia ampla aos desmatadores.
O placar registrou 274 votos a favor do 
relatório de Piau contra 184 de apoio à proposta defendida por Dilma 
Rousseff, aprovada por acordo no Senado, em dezembro. Nas demais 
votações da noite, o governo também perdeu. Em uma delas, os chamados 
apicuns, áreas de manguezais que abrigam a produção de camarão, deixaram
 de ser classificadas como APPs. No Senado, um acordo havia definido 
limites à ampliação das áreas de cultivo do camarão no Nordeste.
Questionada ontem à noite, Dilma 
Rousseff não se manifestou sobre o resultado da votação. O Estado apurou
 que a presidente não ficou satisfeita com o tratamento dado às áreas 
desmatadas até 2008, mas ainda não se decidiu sobre o veto a parte do 
texto.
O resultado da votação claramente impõe 
um novo round de debates para a recuperação das áreas desmatadas, 
sobretudo às margens de rios, consideradas mais importantes na proteção 
dos recursos hídricos.
Segurança jurídica
A ministra do Meio Ambiente, Izabella 
Teixeira, disse à noite que, numa primeira avaliação, o texto aprovado 
pela Câmara não garante “o tão almejado equilíbrio entre a produção e a 
proteção do meio ambiente”. Segundo a ministra, a segurança jurídica 
tampouco foi alcançada, já que resta no texto uma lacuna sobre como será
 a recuperação às margens de rios com mais de 10 metros de largura.
Insatisfeitos com o resultado, os 
ruralistas já prepararam projeto de lei para estabelecer faixas menores 
do que 15 metros para a recuperação das margens de rios nas 
propriedades, anunciou o vice-presidente da Frente Parlamentar da 
Agropecuária, deputado Homero Pereira (PSD-MT).
No caso dos rios mais estreitos, a 
recuperação cai para cinco metros, de acordo com a proposta, que prevê 
também antecipar a suspensão das multas aos desmatadores para 
imediatamente após a aprovação da nova lei, e não a partir do 
compromisso assumido pelos proprietários rurais de regularizar seus 
imóveis, por meio do Cadastro Ambiental Rural. “Recuperar 15 metros , 
como ficou no Código, é muito para a agricultura brasileira”, insistiu o
 relator Paulo Piau.
Para permitir que o Senado assuma o 
comando da nova fase da discussão, os senadores Jorge Vianna (PT-AC) 
e Luiz Henrique (PMDB-SC) protocolaram ontem mesmo projeto de lei com 
regras para a regularização ambiental das propriedades.
Fonte: racismoambiental.net.br
 
 
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